Crise dos reféns na Argélia continua, número de mortos por apurar

Raptores continuam dentro do complexo de extracção de gás natural de In Amenas. Países ocidentais criticam intervenção das forças argelinas

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O campo de gás natural de Amenas, numa imagem de satélite Digital Globe/REUTERS
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Tanques argelinos junto ao complexo de In Amenas ENNAHAR TV/AFP
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Mokhtar Belmokhtar, líder dos islamistas que atacaram o campo de gás na Argélia ANI/AFP

Vários reféns foram mortos no assalto das forças especiais argelinas ao complexo de extracção de gás natural de In Amenas, na Argélia, tomado por uma milícia islâmica, confirmou o primeiro-ministro francês, Jean-Marc Ayrault, depois de se encontrar com o seu homólogo argelino. "Não sabemos ainda quantos são os mortos nem qual a nacionalidade de todos", disse, confirmando que as operações militares prosseguem no local.

A crise dos reféns ainda não está terminada, tinha já dito nesta sexta-feira o Ministério dos Negócios Estrangeiros de Londres. O primeiro-ministro David Cameron disse no Parlamento que serão menos de 30 os britânicos em risco no local e explicou que não foi avisado previamente pelo Governo argelino de que a operação para tentar libertar o complexo de exploração de gás natural iria ter lugar. "Quando falei com o primeiro-ministro argelino pela última vez, ontem à noite, ele disse-me que a primeira operação estava completa, mas que se trata de um local muito grande e complicado e que é possível que haja terroristas e ainda reféns nalguns locais", contou Cameron aos deputados.

Um porta-voz do katiba (batalhão) dos Signatários do Sangue que falou com a Al-Jazira declarou que a operação das forças especiais argelinas fez cinco dezenas de vítimas – 34 reféns e 15 raptores. A agência argelina TSA está a avançar nesta manhã, citando “uma fonte local bem informada”, que 31 pessoas terão morrido: 20 reféns e 11 islamistas. Dois militantes terão ainda sido capturados, segundo esta fonte.

As forças especiais argelinas terão retomado o controlo da parte habitacional do complexo, adianta a Reuters, mas não da zona industrial, onde continuarão alguns dos militantes deste grupo liderado por Mokhtar Belmokhtar.

Uma das vítimas mortais poderá ser um francês – um dos poucos que se encontrariam no local, segundo o ministro do Interior de Paris, Manuel Valls. O facto de se encontrarem poucos cidadãos franceses no complexo de In Amenas foi um dos factores que dificultaram a obtenção de informações, disse o governante. “Sabemos de dois que escaparam, e é possível que existam mais dois. Se estiverem lá, de facto, nesta fase não sabemos nada deles”, reconheceu Valls.

Mokhtar Belmokhtar, argelino, de 40 anos, era, até Outubro ou Dezembro do ano passado, um dos líderes mais proeminentes da Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI), mas foi destituído do cargo – ou afastou-se, não é claro, diz o New York Times – porque a hierarquia do AQMI criticou o facto de se desviar do “caminho certo”. Isto deverá ser uma referência ao tráfico – um dos seus cognomes é Mr. Marlboro, graças ao monopólio de tráfico de tabaco que desenvolveu no Sahel. Não é claro, no entanto, se Belmokhtar estará em In Amenas ou se comandará o ataque à distância.

Stephen McGaul, um engenheiro irlandês de 36 anos que conseguiu fugir quando o veículo em que estava a ser transportado foi atacado por tropas argelinas, contou ao Irish Times que esteve com explosivos atados ao pescoço. Quando fugiu, viu quatro outros jipes com reféns a explodirem.

Alexandre Berceaux, francês que trabalha para a empresa CIS Catering, falou ao telefone com a rádio Europe 1 e diz ainda estar “na base Sonantrach de In Amenas”. Afirma ter passado 40 horas escondido debaixo da cama do seu quarto. “Pus tábuas por todo o lado, ao acaso. Tinha alguns alimentos, qualquer coisa para beber, mas não sabia quanto tempo é que isto ia durar”, relatou.

“Ouvi muitos tiros. Soou o alarme para ficarmos no local onde nos encontrávamos. Não sabia se era um exercício ou se era verdade”, contou. “Ninguém estava à espera, o complexo era protegido, havia militares no local.”

Um avião norte-americano aterrou entretanto na pista de In Amenas, para poder evacuar os cidadãos norte-americanos que trabalhavam no complexo. Washington não ficou satisfeito por não ter sido avisado previamente da intervenção das forças especiais argelinas – o Departamento de Estado não quis confirmar se tinha sido notificado antes do ataque ou não, mas um responsável do Pentágono disse ao New York Times que os EUA não foram avisados.

O Japão, que não sabe nada de 14 cidadãos nipónicos em In Amenas, também não foi avisado do ataque e espera informações. Por isso o embaixador argelino em Tóquio foi esta sexta-feira convocado ao Ministério dos Negócios Estrangeiros nipónico.
 
 
 
 
 
 
 

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