Xi Jinping no Paquistão para lançar um troço crucial da Nova Rota da Seda

O plano prevê a construção de oleodutos, linhas de caminho de ferro e uma auto-estrada de 3000 km que darão à China acesso privilegiado ao Oceano Índico.

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Xi — para quem a amizade entre os dois países é "mais doce que o mel" — foi recebido no aeroporto pelo Presidente Mamnoon Hussain Reuters

A China prepara-se para anunciar um investimento de 46 mil milhões de dólares no projecto "Corredor Económico China-Paquistão", um troço considerado fundamental no projecto Rota da Seda do século XXI. O Presidente chinês aterrou nesta segunda-feira em Islamabad, no Paquistão, para uma visita de dois dias que terá como principal objectivo o anúncio oficial da construção de uma auto-estrada entre Kashgar, na China, e o porto paquistanês de Gwadar.

O primeiro-ministro do Paquistão Nawaz Sharif e Xi Jinping vão ultimar os detalhes do mega-investimento que permitirá o acesso chinês ao Oceano Índico. O corredor económico entre os dois países consistirá numa rede de estradas, caminhos-de-ferro e oleodutos, indo o maior destaque para a construção de uma auto-estrada, de cerca de três mil quilómetros, que ligará a cidade de Kashgar, na província ocidental chinesa de Xinjiang, com o porto de Gwadar, no sudoeste do Paquistão.

A China prevê que esta iniciativa tenha um impacto muito significativo na sua economia, nomeadamente através do acesso aos recursos energéticos de que tanto precisa, uma vez que este corredor possibilitará chegar mais rapidamente aos principais países produtores de petróleo do mundo.

"O corredor económico China-Paquistão está localizado no cruzamento da Cintura Económica Rota da Seda do século XXI e na Rota da Seda Marítima. É, desta forma, um projecto crucial da iniciativa", escreveu Xi Jinping num artigo publicado no domingo no diário paquistanês Daily Times. Estas rotas vão ligar a China à Europa, a África e à América, tocando nas áreas estratégicas para o comércio e o abastecimento de energia.

Com o corredor de ligação ao Paquistão, ao invés dos 12 dias de que precisa actualmente, maioritariamente através do estreito de Malaca, no Sudeste asiático, a China poderá chegar à mesma zona do globo em apenas 36 horas.

Para além das questões energéticas, a nova rede de ligação China-Paquistão também proporcionará um acesso privilegiado chinês ao Oceano Índico e ao Mar Arábico, zonas onde se cruzam as principais rotas comerciais entre o triângulo continental Ásia-África-Europa. A isto acresce ainda o previsível aumento da influência da China na região, particularmente na lógica de equilíbrio de forças com os Estados Unidos, o outro grande parceiro económico do Paquistão. Mushahid Hussain Sayed, director do comité de defesa do Parlamento paquistanês disse à agência Reuters que o Paquistão tem para a China "uma importância crucial nos dias de hoje". Para os chineses este plano "tem de ser bem-sucedido" e tem de ser visto externamente como tal.

Do lado do Paquistão, o corredor terrestre apresenta-se como um projecto apetecível, fortalecendo a sua aliança com a China, que já apresenta uma base bastante sólida no campo militar e na assistência chinesa ao programa nuclear paquistanês. Aliado ao projecto de construção da auto-estrada e dos caminhos-de-ferro, está prometido um financiamento avultado nas infra-estruturas e na rede energética das regiões por onde passará o corredor, uma das mais pobres do país.

O Paquistão e a China temem, porém, que a construção da rede contribua para o aumento da instabilidade na província do Balochistão, onde se situa a cidade e o porto de Gwadar, e onde opera há vários anos um movimento separatista armado. Perspectivando essa possibilidade, prevê-se o envio de um contingente do exército paquistanês para a região, com o intuito de proteger os trabalhadores chineses que irão estar envolvidos nos trabalhos.

Xi Jinping, naquela que é a sua primeira visita ao Paquistão, revelou que se sente como se estivesse a "visitar a casa do seu próprio irmão", e disse que a amizade entre os dois países é "mais alta que as montanhas, mais profunda que os oceanos e mais doce que o mel".

Texto editado por Ana Gomes Ferreira

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