Inspectores da ONU recolheram amostras para inquérito sobre armas químicas na Síria

Coluna de veículos foi atacada por atiradores furtivos nos subúrbios de Damasco.

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Ahmad Alshami/REUTERS

Os inspectores das Nações Unidas conseguiram recolher amostras biológicas de vítimas do que suspeita ter sido um ataque com armas químicas nos subúrbios de Damasco, mesmo depois de a coluna de veículos que os transportava ter sido alvo de disparos de atiradores furtivos esta manhã.

Em dois hospitais onde foram tratadas algumas das centenas de vítimas do ataque de quarta-feira passada, a sudoeste de Damasco, os inspectores da ONU obtiveram algumas amostras, que lhes foram fornecidas por militantes que lutam contra o regime de Bashar Al-assad, diz a AFP, citando o secretário-geral das Nações Unidas.

No caminho para o local, a equipa de 20 peritos tinha sido atacada. Pouco depois da partida, duas bombas explodiram a curta distância do hotel, noticiou a televisão estatal.

"O primeiro veículo da equipa de investigadores foi deliberadamente atingido várias vezes por tiros de snipers não identificados numa zona tampão", adianta um comunicado do gabinete do secretário-geral da ONU, Ban Ki-moon, que não faz referência a qualquer ferido.

"Uma vez que o automóvel deixou de estar operacional, a equipa regressou em segurança a um posto de controlo do Governo" e "vai regressar à área assim que tiver substituído o veículo", acrescenta a nota, em que Ban volta a pedir a cooperação de "todas as partes" para que os inspectores possam "efectuar em segurança o seu importante trabalho". O regime sírio responsabilizou de imediato "grupos terroristas" pelo ataque aos inspectores.

No domingo, sob forte pressão internacional, o regime de Bashar al-Assad autorizou a equipa de peritos, que estavam em Damasco para investigar anteriores denúncias de ataques, a deslocar-se a Ghutta. O secretário-geral da ONU assegurou que o Governo se comprometeu a cumprir um cessar-fogo na região de Damasco enquanto decorresse a visita. A oposição, que controla Ghutta, afirmou também que a segurança dos inspectores seria garantida. Ao deixarem o local, os peritos envergavam coletes à prova de bala.

Avisos russos
O incidente acontece num momento em que a retórica internacional sobre uma possível intervenção na Síria discutida abertamente após as denúncias de que centenas de pessoas foram mortas com gás sarin atinge um ponto inédito. 

A Rússia, que é um dos cinco países com direito de veto no Conselho de Segurança das Nações Unidas, continua a opor-se claramente a uma intervenção armada. O ministro dos Negócios Estrangeiros, Serguei Lavrov, que raramente dá conferências de imprensa, convocou uma para dizer claramente que o seu país considera que qualquer actuação sem autorização da ONU "seria uma grave violação da lei internacional".

"O uso de força de forma inapropriada poderá agravar a situação de forma aguda", afirmou Lavrov. "Se alguém está a pensar que bombardear e destruir a infra-estrutura militar síria, deixando o campo de batalha livre para os opositores do regime ganharem, seria o fim de tudo, saiba que isso é uma ilusão", avisou o chefe da diplomacia de Moscovo.

Estes avisos russos surgem quando a retórica pró-intervenção na Síria sobe de tom. Depois de, no domingo, um alto responsável da Administração norte-americana ter dito que "há muito poucas dúvidas" de que o regime sírio ultrapassou a "linha vermelha", o chefe da diplomacia britânica, William Hague, afirmou nesta segunda-feira que "é possível responder ao uso de armas químicas sem haver unidade completa no Conselho de Segurança da ONU".

E, em Pequim, o ministro dos Negócios Estrangeiros, Wang Yi, pediu "prudência, a fim de que se evite qualquer ingerência" nas questões sírias.

Respondendo às ameaças, um alto responsável dos serviços de segurança sírio disse à AFP que o seu país "está pronto para enfrentar todos os cenários" possíveis.
 
 
 
 

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