Vagas de calor serão cada vez mais frequentes na Índia

Períodos com temperaturas a rondar os 45 graus, como os que têm afectado o país, aumentaram nos últimos 15 anos. Previsões indicam que domingo pode começar a chover.

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Especialistas entendem que Índia deve equiparar subida das temperaturas ao estatuto de “desastre natural” Anindito Mukherjee/REUTERS

Meteorologistas e especialistas do clima entendem que vagas de calor extremo como a que está a afligir a Índia desde Abril, e já fez mais de 1800 mortos, serão cada vez mais frequentes e prolongadas no subcontinente e alertam para a necessidade de planos de acção e adaptação das populações.

Prevê-se que as temperaturas a rondar os 45º se mantenham nos próximos dois dias, o que leva as autoridades a admitirem que o número de vítimas mortais chegue a 2000 até domingo, dia em que está prevista a chegada das primeiras chuvas. A esperança dos indianos no fim do flagelo está na chegada das monções ao Sul do país, no dia 31 de Maio ou no início de Junho. O Norte terá de esperar mais umas semanas.

“As ondas de calor afectam uma grande parte da população e não podemos tirá-los daqui”, disse um funcionário do Departamento de Gestão de Desastres de Andhra Pradesh, um dos estados mais afectados, citado pela agência Reuters. “Pessoalmente, sinto que temos de encontrar uma solução melhor para lidar com situações como estas.”

Os meses de Maio e Junho são, habitualmente, extremamente quentes na Índia. Todos os anos morrem muitas pessoas nesta altura do ano, maioritariamente idosos e sem-abrigo. Mas o assustador número de vítimas mortais de 2015 é já o mais alto desde 1995, quando morreram cerca de 1700 pessoas.

Nos últimos 15 anos, os períodos em que as temperaturas atingiram os 40 graus Celsius têm sido mais frequentes e, principalmente, mais prolongados. E a previsão é de que a tendência se mantenha. Arjuna Srinidhi, do Centro para a Ciência e o Ambiente da Índia, afirma, citada pelo jornal The Hindu, que “o número de dias das vagas de calor poderá aumentar entre 5 a 30 ou 40 dias, todos os anos”.

Face a estes números, os especialistas entendem que a Índia deve equiparar a subida das temperaturas ao estatuto de “desastre natural”, à semelhança dos terramotos e das cheias. E, nesse sentido, tornar imperativo o estabelecimento de uma estratégia real de preparação das populações para os meses de calor.

“As temperaturas extremas aumentam a necessidade de um plano de adaptação local ao calor e de mecanismos de alerta prévios”, alerta,  Anjali Jaiswal, da India Initiative, do Conselho de Defesa dos Recursos Naturais, com sede nos Estados Unidos. Na sua opinião, a estratégia das autoridades terá de centrar-se no “aumento da resistência das comunidades locais”.

A pouca preparação da Índia para lidar com as altas temperaturas é bem visível nos hospitais dos estados de Telangana e Andhra Pradesh, as regiões mais afectadas pelo calor. Estão completamente sobrelotados com doentes que apresentam os sintomas típicos da exposição excessiva ao sol: dores de cabeça, tonturas, febre e até delírio.

Beber muita água, manter-se hidratado e permanecer em casa entre as 11 e as 16 horas são os principais conselhos que as autoridades têm dado. Para muita gente é difícil seguir essas sugestões, uma vez que o país apresenta uma alta percentagem de população em situação de pobreza, que ou não tem casa ou não tem água potável. Muitas destas pessoas optaram por se abrigar em estações de metro ou centros comerciais, também eles sobrelotados.

O exemplo de Ahmedabad

Ahmedabad, situada a Oeste, aprendeu em 2010 uma dura lição, e adoptou medidas que são agora apontadas como caminho a seguir. Em Maio desse ano, mais de mil dos 5,5 milhões de habitantes morreram, vítimas de uma terrível vaga de calor. Desde então, as autoridades montaram um plano de acção para lidar com os meses quentes.

A estratégia de preparação para o calor e de prevenção de situações de insolação e desidratação está assente numa forte campanha de consciencialização das populações para os riscos das altas temperaturas, nomeadamente através dos meios de comunicação mais comuns, como os jornais, a televisão ou a rádio.

O plano de acção inclui cursos de formação para a identificação dos sintomas típicos da exposição excessiva ao sol, assim como a criação de “espaços de refrescamento” em templos e edifícios públicos, durante os meses de maior calor. Outra medida tomada pelas autoridades de Ahmedabad foi a criação de pontos de informação em hospitais e espaços comunitários onde estão sempre afixadas as previsões de calor extremo.

“Planos similares de adaptação ao calor deveriam ser adoptados em toda a Índia”, defende Jaiswal, adiantando que outras cidades e estados já mostraram interesse em adoptar o “programa inovador de Ahmedabad”.

Editado por João Manuel Rocha

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