USA Today quebra silêncio histórico e publica editorial anti-Trump

Jornal norte-americano com sete milhões de leitores não chega a apoiar Hillary Clinton, mas pede que se faça tudo "para manter Donald Trump longe da Casa Branca".

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O jornal chama "perigoso demagogo" a Donald Trump Jewel SAMAD/AFP

Muitos jornais norte-americanos anunciam aos leitores a sua preferência por um candidato nas eleições Presidenciais dos Estados Unidos, mas o USA Today sempre resistiu a essa política desde a sua fundação, em 1982. Este ano, pela primeira vez, abriu uma excepção: numa decisão unânime, o conselho editorial acusou Donald Trump de ser um "perigoso demagogo" sem qualificações para exercer o cargo.

Com uma audiência estimada em sete milhões de leitores em todo o país, o USA Today rivaliza em influência com o New York Times e o Washington Post, e a decisão tomada esta sexta-feira pode ajudar a influenciar alguns indecisos.

"Nos 34 anos de história do USA Today, o conselho editorial nunca tomou partido na corrida presidencial. Em vez disso, expressámos opiniões sobre os principais assuntos e nunca tivemos a presunção de dizer aos nossos leitores, que têm uma variedade de prioridades e valores, qual é a melhor escolha para eles", começam por explicar os membros do conselho editorial do USA Today.

Mas essa tradição teve de ser quebrada este ano, diz o jornal, porque desta vez "a escolha não é entre duas pessoas nomeadas pelos principais partidos, ambas com as necessárias qualificações, embora com significativas diferenças ideológicas". O candidato do Partido Republicano, Donald Trump, "não está apto" para ser Presidente dos Estados Unidos, uma opinião "unânime" do conselho editorial do USA Today.

"Desde o dia em que anunciou a sua candidatura, há 15 meses, até ao debate desta semana, Trump demonstrou repetidamente que não tem o temperamento, o conhecimento, a firmeza e a honestidade de que a América precisa dos seus Presidentes. Seja por indiferença, seja por ignorância, Trump tem traído compromissos fundamentais feitos por todos os Presidentes desde a Segunda Guerra Mundial. Estes compromissos incluem um apoio incondicional aos aliados da NATO, uma oposição firme à agressão russa, e uma certeza absoluta de que os Estados Unidos vão sempre pagar as suas dívidas. Ele tem expressado admiração por líderes autoritários e pouca consideração pelas protecções constitucionais", escrevem os membros do conselho editorial do USA Today.

O mesmo conselho salienta que esta condenação de Trump não significa um apoio incondicional a Hillary Clinton, "que tem as suas próprias falhas (embora seja muito menos provável que as falhas dela constituam uma ameaça à segurança nacional ou que nos conduzam a uma crise constitucional)". Em resumo, no conselho editorial do USA Today "não há consenso para um apoio a Clinton". Em vez disso, o jornal aconselha os seus leitores a olharem para Clinton como uma alternativa válida "para manter Trump longe da Casa Branca"; ou a ouvirem outros candidatos (como Gary Johnson, do Partido Libertário, ou Jill Stein, dos Verdes). 

"Seja como for, resistam ao perigoso alarme de um perigoso demagogo. Votem, mas não votem em Donald Trump", concluiu o jornal.

Para além desta histórica tomada de posição do USA Today, muitos outros jornais anunciaram o seu apoio declarado a Hillary Clinton, entre os quais alguns claramente conservadores. O Dallas Morning News, por exemplo, decidiu apoiar Hillary Clinton depois de 75 anos a recomendar o voto nos republicanos. Na última sexta-feira, a direcção do Cincinnati Enquirer seguiu o mesmo caminho e quebrou uma tradição com quase 100 anos. Também o Arizona Repbublic quebrou a mesma tradição, ainda mais antiga: o jornal nunca tinha apoiado um candidato do Partido Democrata desde a sua fundação, em 1890.

Como se esperava, o New York Times também declarou o seu apoio a Hillary Clinton, mas foi mais longe e publicou um texto com o título "Porque Donald Trump não deve ser Presidente".

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