Unidos, vão ter de poder

É caso para dizer para nunca se consegue uma segunda oportunidade para causar uma boa primeira impressão. E os líderes políticos espanhóis não a vão ter. Mas vão ter umas segundas eleições, depois de nos últimos seis meses terem deixado uma má impressão, mostrando uma total incapacidade de conseguir acordos ou alianças que permitissem uma solução de governabilidade. Espanha está em campanha desde as europeias de 2014, as legislativas de 20 de Dezembro de 2015 culminaram com o PP de Mariano Rajoy a perder a maioria absoluta e com a emergência do Podemos e do Cidadãos a colocar um ponto final no bipartidarismo. Seguiram-se seis meses de impasse e penosas negociações que resultaram em absolutamente nada. Hoje os espanhóis são chamados novamente às urnas, mas as últimas sondagens mostram que o Parlamento espanhol continuará fragmentado e com um equilíbrio de forças que não dispensará novamente a necessidade de procura de consensos. A tolerância dos espanhóis para campanhas aproxima-se de zero e o resultado do referendo no Reino Unido ajuda a montar uma cenário em que o prolongamento da indefinição política funcionará como um barril de pólvora.

Não é garantia que alguma coisa vá mudar, mas o 26 de Junho terá uma diferença face ao 20 de Dezembro. É que o Podemos não se apresentará como partido, mas numa aliança com a Esquerda Unida (federação que inclui o Partido Comunista), denominada de Unidos Podemos. Com esta manobra, e com um discurso mais moderado a nível nacional, roubando a bandeira da social-democracia ao PSOE (e rebaptizando-a de “nova social-democracia”), Pablo Iglesias já conseguiu a proeza de colocar o seu partido como o segundo nas sondagens. Mas se quiser governar, também não pode hostilizar o PSOE. À esquerda, de um lado o Podemos que nasceu em 2014, e do outro o PSOE que tem 137 anos de história. À direita, o PP de Mariano Rajoy, ao não deixar cair o ministro do Interior que apareceu em escutas a tentar implicar os seus rivais políticos em escândalos de corrupção, também mostra que pouco ou nada aprendeu com a perda da maioria absoluta. Apesar de estar em primeiro nas sondagens, os votos do Cidadãos não chegam para lhe dar uma maioria. É caso para dizer que todos os caminhos vão dar ao PSOE. E algum deles terá necessariamente de conduzir a uma solução de estabilidade.

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