Putin diz que é preciso discutir a criação de um estado no Leste da Ucrânia

União Europeia ameaça Rússia com mais sanções dentro de uma semana.

As forças ucranianas esperam novas incursões dos rebeldes
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As forças ucranianas esperam novas incursões dos rebeldes Francisco Leong/AFP
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Vendedor de T-shirts no centro de São Petersburgo. Foto tirada neste domingo Alexander Demianchuk/Reuters

O Presidente da Rússia, Vladimir Putin, entende que é necessário iniciar uma discussão sobre a "condição de estado do Leste da Ucrânia", onde uma rebelião separatista combate a autoridade do Governo de Kiev desde Abril.

Este domingo, foram emitidas na televisão russa declarações de Vladimir Putin, feitas numa entrevista gravada na sexta-feira, em que este diz que "é preciso começar imediatamente conversações substantivas sobre as questões da organização política da sociedade e da condição de estado do Sudeste da Ucrânia, com o objectivo de proteger os interesses legítimos das pessoas que lá vivem", segundo a agência AFP.

Foi a primeira vez que o chefe de Estado russo se referiu publicamente à hipótese de criação de um novo Estado na região dominada pelos separatistas, que chamou pelo nome de "Novorossiya", ou Nova Rússia. As palavras de Putin estão a ser lidas como uma forte pressão sobre o Governo de Kiev para que acabe a sua campanha militar contra os rebeldes e aceite as suas reivindicações, nomeadamente a auto-determinação dos territórios das províncias de Donetsk e Lugansk, que forma a região de Donbass.

No entanto, o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, já veio clarificar as declarações do Presidente, dizendo que Putin acredita que as áreas rebeldes devem manter-se no território ucraniano. "Este é um conflito interno da Ucrânia, não um conflito entre a Ucrânia e a Rússia", notou Peskov.

A escalada da tensão na Ucrânia, onde no sábado já se abriam trincheiras, levou a União Europeia (UE) a endurecer a sua posição em relação à Rússia, que os aliados acusam de estar a fomentar a instabilidade e a violência no país vizinho. Reunidos numa cimeira para nomear o novo presidente do Conselho Europeu e a nova responsável pela diplomacia da União, os líderes europeus chegaram a acordo para um reforço das sanções dentro de uma semana, se a Rússia não recuar.

"Toda a gente está inteiramente ciente de que temos de agir rapidamente, dada a escalada no terreno”, afirmou o presidente do Conselho Europeu, Herman Van Rompuy, no final do encontro. Também os líderes europeus, em comunicado, afirmaram que a UE “está pronta para dar passos significativos à luz da situação no terreno”. Pediram ainda à Comissão Europeia que avalie formas de aplicar sanções a pessoas e instituições que estejam a colaborar com os separatistas. 

Nas comunicações que se seguiram à cimeira, os líderes da União Europeia não especificaram as sanções que podem vir a ser impostas à Rússia, que já foi alvo de medidas económicas dirigidas aos sectores militar, financeiro e de energia. Em resposta, Moscovo decidiu deixar de importar vários bens alimentares da Europa e EUA. Novas sanções económicas – e eventuais contra-sanções – terão impacto numa economia europeia que está a atravessar um momento de crescimento reduzido. Para os países que têm na Rússia um parceiro económico importante (como é o caso da Finlândia), estas batalhas económicas são particularmente penalizadoras.

No final do encontro, que durou sete horas, o primeiro-ministro português afirmou ser preciso “mostrar à Rússia que a União Europeia não acredita em soluções militares, mas que também não assobia para o lado". A postura da UE tem sido a de sublinhar que este conflito não deve ser resolvido com recurso às armas. Já o presidente francês, Francois Hollande, questionou: “Vamos deixar esta situação piorar até que conduza à guerra? Porque hoje há esse risco. Não há tempo a perder”.

Este sábado, enquanto os líderes europeus estavam reunidos, foram publicadas imagens que ecoam conflitos antigos em território europeu. Em torno da cidade portuária de Mariupol, próxima da Crimeia, estão a ser cavadas trincheiras, como forma de defesa contra os blindados dos separatistas. 

O presidente ucraniano, Petro Poroshenko, já tinha afirmado que o conflito estaria próximo de um “ponto sem retorno”, acusando a Rússia de ter tropas dentro da Ucrânia, algo que Moscovo nega.

Troca de prisioneiros
Entretanto, a Ucrânia e a Rússia chegaram a acordo e trocaram prisioneiros de ambos os países, de acordo com informação de agências noticiosas russas.

À Rússia regressaram dez paraquedistas que tinham sido capturados em território ucraniano, e que Kiev afirmou serem prova de incursões russas no país. Moscovo contrapôs que os militares tinham passado por engano uma zona não assinalada da fronteira. Para a Ucrânia voltaram 63 soldados.

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