Uma pequena trégua numa guerra sem fim

Só quando a guerra for firme e inteligentemente estancada será possível sair deste círculo de morte.

Dito assim parece simples: Israel punha fim ao embargo à Faixa de Gaza e o Hamas aceitava a destruição dos túneis, a chamada “Gaza subterrânea” que lhe servem tanto para receber armas como para contrabando. A revista Economist dizia até, num artigo publicado ontem, que o conflito só acabaria se fossem cumpridas ambas as condições. Mas quem as cumprirá? O Hamas, que se empenha mais uma vez num ataque suicida contra Israel, disparando mísseis que raramente atingem alvos, porque são desviados, mas que vê nesse ataque uma forma de sobrevivência em plena agonia política? Israel, que tem vindo a radicalizar as suas posições e a sua sanha militar, contando com isso aniquilar de vez uma ameaça que todos sabem não poder ser aniquilada assim? Não, nenhuma das partes cederá. E enquanto isso morre muita gente, numa proporção que só é “favorável” a Israel (com muito menos mortos do que Gaza) devido à superioridade militar que desde há muito é uma das suas marcas e defesas. Enquanto isso, assistimos impotentes a gente ferida, ensanguentada, a clamar por inocência sem que a ouçam. Gente como a da escola da ONU, vítimas civis escusadas, como escusada será a discussão para saber se foram morteiros de Israel ou do Hamas que ali provocaram uma carnificina. Foi a guerra, esta irrazoável escalada de violência que só quando for firme e inteligentemente estancada tornará possível sair deste círculo de morte. Os Estados Unidos, que pretendiam negociar um cessar-fogo de duas semanas, acabam por se “contentar” com uma trégua de 12 horas concedidas por Israel, na manhã de hoje. Depois, tudo continuará como até aqui: rockets de Gaza para Israel, bombas de Israel para Gaza, e um exército, o israelita, a repetir no terreno manobras de outros tempos. A indústria de armamento rejubila. Os combatentes iludem o medo com a adrenalina do momento. Os civis tremem ao som das bombas. Que miserável espectáculo, este.

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