Uma guerra sem fim à vista, com ou sem Assad

Ao fim de quatro anos, há quem fale no possível desmembramento do que é hoje a Síria, mas também do Iraque.

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A guerra na Síria já fez mais de 220.000 mortos Abdalrhman Ismail/Reuters

Os números são impressionantes, mas já servem de pouco para traduzir o terror em que a Síria mergulhou nos últimos quatro anos: 220.000 mortos, 130.000 capturados ou desaparecidos e mais de três milhões de refugiados. As manifestações da Primavera de 2011 contra o regime de Bashar al-Assad desaguaram numa guerra sangrenta, e o cenário só tem tendência a piorar: um pouco por todo o país, é cada vez mais difícil perceber quem está do lado de quem, quem combate contra quem, e até se algo vai sobrar da Síria que ainda aparece nos mapas.

Depois da morte de mais de 200.000 pessoas, o regime do Presidente sírio, Bashar al-Assad, permanece inamovível, e a luta pelo controlo da Síria é uma guerra sem fim à vista.

Apesar de toda a confusão e mortandade no terreno, a realidade é essa: o regime de Bashar al-Assad continua. E os grupos da oposição reconhecidos pelos Estados Unidos e pela União Europeia vão continuar a lutar contra o seu regime. E os extremistas do autoproclamado Estado Islâmico e da Frente al-Nusra vão continuar a combater contra uns e outros.

"Devido à paralisia das instituições estatais tanto na Síria como no Iraque, e à falta de capacidades do Exército, cada seita ou grupo étnico formou a sua própria milícia, e em alguns casos até mais do que uma", escreve no site do canal i24 news Yakub Halabi, professor de Relações Internacionais na Universidade Concordia em Montreal, no Canadá.

Este analista alerta que nem a eventual derrota do autoproclamado Estado Islâmico significaria o fim do derramamento de sangue na região, especialmente no Iraque.

"Com a derrota e a retirada dos militantes do Estado Islâmico destas áreas, os árabes sunitas e xiitas, bem como os curdos, sabem que os próximos combates vão ser travados entre eles em Kirkuk, uma cidade rica em petróleo habitada por curdos, árabes, turcomanos. Para prevenir uma tomada do distrito adjacente à região semi-autónoma do Curdistão, o governo iraquiano tem treinado militantes xiitas com o apoio do Irão", escreve Halabi, um árabe israelita.

Na Síria, como no Iraque, há uma guerra à espreita para além da guerra que já fez centenas de milhares de mortos nos últimos quatro anos, e que pode mesmo levar ao desmembramento do que hoje se vê quando se olha para um mapa.

Yakub Halabi faz a pergunta, e a resposta, inquietante, fica nas entrelinhas: "Não deveríamos admitir a ideia de que derrotar o Estado Islâmico e estabilizar estes países pode passar por dividi-los em estados homogéneos? Afinal, o sectarismo tanto no Iraque como na Síria foi favorável ao Estado Islâmico e permitiu-lhe pôr o último prego no caixão do nacionalismo iraquiano e sírio."

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