Uma definição do terrorismo

Como retaliamos – e em quem – define-nos.

Há muitas mas eu gosto desta: há terrorismo quando, porque detesto W, ataco a integridade física de Y. Nem interessa se com razão ou sem razão (terroristas e fanáticos acham que têm sempre razão), nesse momento perde-se a razão.

Perder a razão nem sempre puxa o pior de nós, veja-se o caso do amor. Mas tem essa infeliz tendência. Perder a razão julgando que temos razão é o diabo.

Esta noite não foi um acidente. Foi uma promoção deliberada do horror, sabe-se lá com que fins. Corrijo, sabe-se com que fins: matar pessoas, sem olhar a quem, aterrorizar a mais cosmopolita cidade do mundo. Não se conhecem os fins todos. Foi eficaz q.b., como são habitualmente estes actos: tiram vidas (e foram muitas e só podemos ficar em silêncio perante a dor dos familiares), promovem o ódio, o medo, o fechamento, a desconfiança em relação aos outros. Atingem a economia. Beneficiam o nosso lado guerreiro e tiram terreno ao nosso melhor lado, o que não tem medo, o que ri, o que acredita na essencial bondade humana. (Não estou a dizer que a «essencial bondade humana» existe, mas o que será de nós se não acreditarmos nela?)

O ataque foi também ineficaz, como serão sempre. Deixa um rasto de destruição, deixa vítimas, acelera o Inverno, mas não nos retira amor à vida. Apenas o contrai, durante algum tempo, com medo, desconfiança, vontade de retaliar.

Como retaliamos – e em quem – define-nos.

Escritor

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