Uma centena de mortos em ataques aéreos do regime sírio contra Raqqa

Observatório dos Direitos Humanos diz que maioria das vítimas do bombardeamento contra a "capital" do Estado Islâmico eram civis.

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As bombas visaram um popular mercado junto ao museu da cidade e uma zona industrial Nour Fourat/Reuters

Aviões de Bashar al-Assad bombardearam na terça-feira Raqqa, cidade no Norte da Síria que os radicais do Estado Islâmico (EI) proclamaram como sua capital. Quando o fumo das explosões se dissipou, contavam-se quase uma centena de mortos, na sua maioria civis.

“Este é um dos crimes mais horríveis cometidos pelo regime até agora em Raqqa”, disse à agência AP Abu Ibrahim al-Raqqawi, porta-voz do grupo de activistas Raqqa Está a Ser Silenciosamente Massacrada, criado após a revolta contra o Presidente Bashar al-Assad, mas que agora se dedica sobretudo a expor as atrocidades cometidas pelos jihadistas, que em Março de 2013 conquistaram a cidade.

Segundo o Observatório Sírio dos Direitos Humanos, as bombas caíram sobre um popular mercado junto ao museu da cidade e uma zona industrial, controlada pelos radicais e onde trabalham centenas de civis. Foi ali que mais gente morreu. “Após o primeiro raide, as pessoas acorreram ao local para socorrer as vítimas e foi nessa altura que houve um segundo ataque”, contou à AFP Rami Abdel Rahman, director do Observatório Sírio dos Direitos Humanos, adiantando que das 95 vítimas confirmadas pelo menos 52 eram civis. Rahman disse não ter informações sobre quantos dos restantes eram combatentes do EI, mas adianta que os radicais detinham várias posições nas zonas atacadas.

Um vídeo colocado na Internet por um dos grupos de propaganda dos jihadistas, e cuja autenticidade não é possível confirmar, mostra bombeiros a lançar água sobre vários carros a arder e equipas de emergência a colocarem vários corpos numa ambulância.

Raqqa é a única capital de província que o regime sírio não controla, mas até ao Verão foi poupada pela Força Aérea síria – uma opção que levou a oposição secular, debaixo de fogo nas áreas que domina, a acusar Assad de deixar terreno livre aos radicais, na esperança de que eles canibalizassem as outras forças da oposição. Mas nos últimos meses os jihadistas lançaram várias ofensivas contra as zonas controladas pelo Exército, tomando bases e executando inúmeros militares, o que levou Damasco a visá-los.

Raqqa tem sido também um dos principais alvos da ofensiva aérea desencadeada em Setembro pelos Estados Unidos contra posições do EI na Síria. Segundo as Nações Unidas, a operação provocou mais de 800 mortos na Síria, dos quais pelo menos 50 eram civis. A coincidência temporal das duas operações arrisca-se a colocar a população contra a intervenção internacional, minando o apoio que Washington queria angariar entre os sunitas, que diz ser determinante para vencer o EI.

Um alto responsável sírio disse à AFP que Damasco “não coordena” as suas operações com os militares americanos – uma afirmação repetida pelo Pentágono, mas que activistas no terreno colocam em causa. “A coligação sabe quando Raqqa vai ser atacada, isso é evidente”, disse à AFP o activista Nael Mustafa. Um outro habitante contou à BBC que o único hospital que ainda funciona na cidade está a ter dificuldades em tratar os feridos dos muitos bombardeamentos e conta que a população está revoltada e muito assustada. “Têm medo porque dizem que de manhã há ataques aéreos do regime, à noite da coligação e a vida sob o EI é muito, muito difícil”, contou.

O ataque aconteceu na véspera de o Presidente russo, Vladimir Putin, receber o ministro dos Negócios Estrangeiros sírio, Walid al-Moualem, numa nova tentativa para relançar o diálogo entre Governo e oposição depois do fracasso dos encontros de Genebra, em Fevereiro. Moscovo alega que o surgimento do EI torna mais urgente uma solução política, mas as expectativas são baixas, já que o Governo russo continua a defender que Assad se mantenha no poder, pelo menos até à realização de novas eleições. No final do encontro, o chefe da diplomacia russa, Serguei Lavrov, disse que o terrorismo é a principal ameaça ao Médio Oriente e garantiu que Moscovo “vai continuar a apoiar a Síria a enfrentá-la”.

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