Um drama a passo nas estradas da União

A imagem iconográfica do drama é agora outra: milhares de refugiados a pé nas auto-estradas da Europa.

Não os deixaram sair de comboio, decidiram fazer-se ao caminho a pé. E a Hungria, e a par dela o mundo, assistiram atónitos àquilo que até aí ninguém previra: cerca de 1200 refugiados deixaram a estação ferroviária de Budapeste e fizeram-se à estrada, a pé, com destino à Áustria. Romperam assim o bloqueio que lhes tinha sido imposto pela polícia húngara, que mais não fez, depois, do que acompanhar esta inusitada marcha pelas auto-estradas a curta distância, como se por ela silenciosamente zelasse. Sendo um êxodo, e um êxodo imparável, não há porém neste movimento migratório de refugiados qualquer paralelo com o dos milhões de refugiados que se arrastam pelo continente africano, como sombras, amontoados em campos de pendor humanitário que ameaçam tornar-se na sua “casa” durante muitos anos. Os homens, porque são homens na sua maioria, que aportam à Europa e nela tentam a sorte são parte da classe média síria, um país que se esboroa impunemente diante da ineficácia de todos, mesmo dos que emitem as mensagens mais piedosas. A Síria está a acabar, já ninguém fala do ditador Assad nem da guerra, a tal terrível guerra que matava e ainda mata milhares de inocentes, porque estão todos muitos ocupados em saber se afinal receber mais 120 mil ou 150 refugiados: professores, engenheiros, técnicos, aparentemente gente culta que os nossos líderes já imaginam a limpar florestas ou a alcatroar estradas pelo mínimo preço. Talvez não tenham reparado mas, aos muitos milhares que já chegaram à Europa há ainda muitos outros, alguns milhões, que as máfias tentarão na aventura da travessia ou que, por vontade própria, se farão ao caminho. A Europa cuida de prometer, conciliar, travar relutâncias com cortesias, mas nada disso é ainda resposta para o que aí vem. E o que aí vem obrigará a uma intervenção séria, decerto humanitária, como raramente se viu.

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