UE apoia plano para criar zona de cessar-fogo em Alepo

É a única ideia do enviado da ONU, Staffan de Mistura. Bruxelas diz que chegou a altura de “contribuir para uma solução” na Síria.

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Combatentes de um grupo rebelde numa das frentes de combate em Alepo Sultan Kitaz/Reuters

Os ministros dos Negócios Estrangeiros da União Europeia afirmam apoiar o plano da ONU para criar zonas de cessar-fogo na Síria, começando por Alepo, a grande cidade do Norte transformada há mais de dois anos num campo de batalha. A ideia do enviado especial das Nações Unidas e da Liga Árabe para a Síria, Staffan de Mistura, passa por conseguir negociar o fim dos confrontos em determinadas zonas e assim permitir a entrada de ajuda, para além de abrir espaço ao restabelecimento dos serviços básicos e das administrações locais.

A ideia não é completamente nova e a a Turquia, por exemplo, propõe há muito este tipo de soluções. Ancara fala em zonas-tampão, partindo do princípio de que seria necessário pôr no terreno algum tipo de força para proteger os civis; Mistura refere-se a zonas de cessar-fogo, a criar com base apenas no acordo das partes.

Mas mesmo que os interlocutores disponíveis aceitem o plano de Staffan de Mistura, e não é certo que o façam (ou que o cumpram se o fizerem), é quase impossível negociar com os 18 grupos diferentes que operam em Alepo, incluindo extremistas próximos da Al-Qaeda e o autoproclamado Estado Islâmico, que controla posições perto da cidade.

Mistura passou por Bruxelas para apresentar a sua iniciativa aos ministros vindo da Turquia, onde se reuniu com a oposição política e militar. Apoiar o plano da ONU, disse aos jornalistas a chefe da Política Externa da UE, Federica Mogherini, é crucial “não só por razões humanitárias e de segurança mas também como um símbolo do que podemos e devemos fazer para travar a guerra na Síria…” “Chegou a altura de contribuirmos positivamente para uma solução.”

Em Novembro, o regime descreveu o plano como “uma iniciativa que vale a pena estudar”, mas as últimas notícias indicam que as forças de Bashar al-Assad, apoiadas por combatentes iranianos e libaneses, estão cada vez mais perto de uma colina a partir da qual a oposição controla a única estrada que lhe permite reabastecer a partir da Turquia as áreas de Alepo que ainda controla. E os antecessores de Mistura – Kofi Annan e Lakhdar Brahimi – viram como Damasco ignora frequentemente os compromissos que assume.

O problema é que, mais de 200.000 mortos depois, este plano “é o único que existe”, como o próprio Mistura admitiu numa entrevista a Lyse Doucet, jornalista da BBC.

O diplomata sueco acredita que o facto de todos os lados se sentirem ameaçados pelo radicalismo do Estado Islâmico pode funcionar como uma oportunidade. “Ninguém está realmente a ganhar, toda a gente está a perder”, disse a Doucet no mês passado, quando esteve na Síria. Depois, enquanto apontava para as ruínas da Cidade Velha de Homs, onde a entrevista se realizou, acrescentou: “Temos de começar por algum lado, antes que todo o país esteja assim”.

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