Turquia responde a acordo com a Europa e captura 1300 refugiados e migrantes

Centenas de sírios, iraquianos, afegãos e iranianos foram detidos pela guarda costeira da Turquia quando se preparavam para viajar para a Grécia. Europa prometeu 3000 milhões a Ancara para reduzir o fluxo de refugiados.

Foto
Refugiados e migrantes esperam que lhes seja autorizada a passagem da Grécia para a Macedónia. Armend Nimani/AFP

Um dia depois de ter prometido à Europa controlar melhor as suas fronteiras terrestres e marítimas a troco de 3000 milhões de euros e outras concessões, a Turquia capturou 1300 refugiados e migrantes que se preparavam para viajar de barco para a Grécia. Serão agora enviados para um centro de repatriamento e avaliados os seus pedidos de asilo. Parte dos detidos arriscam-se a ser deportados.  

Segundo a agência turca Anadolu, as autoridades detiveram centenas de sírios e iraquianos – a quem a União Europeia reconhece estatuto de refugiado na esmagadora maioria dos casos –, assim como afegãos e iranianos. Para além deles, a guarda costeira turca capturou três alegados traficantes, quatro barcos e seis motores.

É uma das maiores operações deste género no país. Aconteceu em Ayvacik, ao final do dia de segunda-feira. Este é um dos principais pontos de partida para a Europa desde a Turquia, dada a proximidade com a ilha grega de Lesbos, onde entraram mais de 400 mil pessoas alegando estatuto de refugiados só neste ano.

Na Turquia é prática corrente as autoridades fecharem os olhos ao tráfico de pessoas pelo Mediterrâneo. Uma reportagem publicada recentemente pelo diário britânico Guardian dá conta de gabinetes de traficantes a apenas alguns metros de esquadras da polícia turca. A operação de segunda-feira, porém, parece não acontecer por acaso.

União Europeia e Turquia finalizaram no domingo um acordo que prevê que Bruxelas envie 3000 milhões de euros em ajuda humanitária a Ancara. Trata-se de um primeiro passo da comunidade europeia para cobrir parte da despesa turca com os seus mais de dois milhões de refugiados – embora a maioria não viva em campos de acolhimento.

A Europa compromete-se também a eliminar os vistos de turismo para cidadãos turcos em 2016 e a relançar o processo de integração da Turquia na comunidade europeia. A troco disto, o Governo de Ancara promete reduzir a chegada de refugiados à Europa e ser mais vigilante na protecção das suas fronteiras.

As organizações humanitárias parecem não ter dúvida de que a operação de segunda-feira é um reflexo do acordo com a Europa. “É ilegal e inconsciente”, afirmou a Amnistia Internacional. “É também uma mancha na consciência da UE”, sublinha a organização.  

Bruxelas recusa a ideia de que está a pagar à Turquia para reter refugiados e migrantes nas suas fronteiras. O próprio Governo de Ancara sublinha que o dinheiro “se destina aos sírios” em campos de acolhimento. Mas o entendimento é encarado com cepticismo, principalmente por organizações humanitárias.  

“[É] profundamente preocupante porque está concebido acima de tudo para obstruir o movimento dos que procuram asilo na União Europeia e porque contraria os princípios fundadores da União”, afirma ao Guardian Melanie Ward, uma das directoras do Comité Internacional de Resgate, do Reino Unido. “Este acordo só vai fazer com que fique mais caro e perigoso para os que estão determinados a prosseguir a sua viagem para a Europa”, conclui.    

O Alto-Comissariado para os Refugiados da ONU estima que tenham chegado mais de 880 mil pessoas à Europa pelo Mediterrâneo neste ano. Mais de 730 mil chegam à Grécia, vindos da Turquia. Já mais de 3500 pessoas morreram a fazerem esta travessia. 

Sugerir correcção
Ler 10 comentários