Turquia interceptou avião russo sobre o seu espaço aéreo

Incidente aconteceu no sábado no Sul do país. NATO considera "inaceitável" o sucedido.

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A Turquia avisa que a Rússia "será considerada responsável por qualquer acontecimento indesejado" Emmanuel Dunand/AFP

A Turquia anunciou ter interceptado um avião militar russo, ao que tudo indica envolvido nas operações na Síria, que entrou sábado no seu espaço aéreo. O Governo de Ancara convocou o embaixador russo para protestar contra a incursão, que o secretário-geral da NATO classificou de “inaceitável” e os Estados Unidos dizem “não ter sido acidental”.

O Ministério dos Negócios Estrangeiros turco revelou que o avião entrou às 10h08 de sábado (hora de Lisboa) no espaço aéreo de Hatay, a província mais a sul da Turquia sobre a qual Damasco mantém antigas reivindicações territoriais. O aparelho “abandonou o espaço aéreo da Turquia em direcção à Síria ao ser interceptado por dois F-16 da Força Aérea turca que estavam a patrulhar a região”, adianta o comunicado divulgado nesta manhã.

Há entretanto notícias de um segundo incidente, não mencionado naquela nota. Segundo o site das Forças Armadas turcas, dois caças turcos foram “assediados” no domingo por dois Mig-29 que durante mais de cinco minutos fixaram neles os seus radares – operação que antecede eventuais disparos. Os militares não revelam, no entanto, se os aviões seriam russos ou sírios.

Estes incidentes acontecem dias depois dos primeiros bombardeamentos russos na Síria, um desenvolvimento que elevou a tensão, no plano diplomático e militar, para níveis inéditos. A oposição ao Presidente Bashar al-Assad e os países que a apoiam acusam Moscovo de estar a usar o pretexto do terrorismo para ir em auxílio do regime sírio. A Rússia responde que a sua operação visa todos os grupos terroristas e não apenas os jihadistas do Estado Islâmico, contra quem os EUA mobilizaram uma coligação que junta europeus e árabes.

Ainda no domingo, o Presidente turco, dos críticos mais ferozes de Assad, classificou de “inaceitável” a campanha russa na Síria, acusando Moscovo de cometer “um erro grave”. “Assad comete terrorismo de Estado e infelizmente vemos a Rússia e o Irão a defendê-lo”, lamentou o Presidente turco, Tayyip Erdogan.

Já depois, o primeiro-ministro Ahmet Davutoglu revelou que, na resposta aos protestos de Ancara, a Rússia assegurou que a incursão “foi um engano” e “não voltará a acontecer” – uma posição que o Kremlin não assumiu logo publicamente, dizendo estar ainda a verificar “alguns factos que foram mencionados” (posteriormente o porta-voz do Ministério russo da Defesa, general Igor Konachenkov, disse que o avião que entrou em espaço aéreo turco no sábado o fez por "breves segundos" devido "ao mau tempo").  Davutoglu voltou, ainda assim, a acusar Moscovo de contribuir para a escalada do conflito e avisou que a Força Aérea turca tem “regras de actuação claras” face a violações do espaço aéreo, estando autorizada a interceptar “um pássaro que seja”.

A intervenção russa constitui mais um degrau na internacionalização do conflito na Síria, onde cresce o número de envolvidos e aumenta o grau de intervenção de cada um deles. Mas a presença de forças militares russas na região tem um risco prático mais imediato, já que os aviões russos partilham o espaço aéreo com as forças da liderada pelos EUA e operam na vizinhança do território da NATO – a Turquia detém o segundo maior Exército da Aliança Atlântica.

“As acções da Rússia não contribuem para a segurança e a estabilidade da região”, reagiu o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, pouco depois de receber em Bruxelas o ministro dos Negócios Estrangeiros turco, Feridun Sinirlioglu. Em tom de aviso, Stoltenberg pediu à Rússia que “respeite totalmente o espaço aéreo da NATO e evite uma escalada de tensões com a Aliança”, depois de a crise na Ucrânia ter colocado as relações entre ambas ao pior nível desde o final da Guerra Fria.

Um responsável norte-americano, que falou à AFP sob anonimato, disse “não acreditar que [a incursão] tenha sido um acidente”. Afirma ainda que o sucedido “levanta questões sobre as intenções [russas] na Síria e certamente sobre o comportamento e profissionalismo” dos militares russos num teatro de operações em que há vários intervenientes.

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