Tsipras quer solução “mutuamente benéfica”

Primeiras medidas do novo Governo anulam decisões do anterior executivo. Tsipras diz que Governo está pronto a “derramar o seu sangue” para “restabelecer a dignidade” dos gregos.

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Alexis Tsipras, com o ministro do Interior, Nikos Vroutsis , no início do Conselho de Ministros LOUISA GOULIAMAKI/AFP

No discurso com que abriu o seu primeiro Conselho de Ministros, Alexis Tsipras falou a dois tempos, para os gregos e para a Europa. O novo primeiro-ministro disse que o seu Governo é de “salvação nacional” e está pronto a “derramar o seu sangue” para "restabelecer a dignidade dos gregos”. E assegurou que não quer um “confronto mutuamente destrutivo” com os parceiros europeus.

Tsipras reafirmou o interesse numa “renegociação” da dívida que chegue a “uma solução justa, viável e mutuamente benéfica” e garantiu não desejar uma “ruptura”. Mas declarou também não estar disponível para “continuar a política de sujeição” da Grécia.

Uma das prioridades reafirmadas pelo chefe do Governo é responder à “crise humanitária”. “Somos um Governo de salvação nacional, o nosso objectivo é restabelecer a segurança e a dignidade”, disse, segundo as agências. A perda de dignidade é atribuída pelo Syriza à austeridade dos últimos anos, que fez subir o desemprego para 25%.

Antes mesmo do primeiro Conselho de Ministros da era Syriza, esta quarta-feira, membros do Governo anunciaram algumas das suas primeiras intenções: parar as privatizações dos portos do Pireu e de Tessalónica e do principal operador público de electricidade, DEI.

O regresso do salário mínimo aos 751 euros – actualmente são 580 –, a distribuição de electricidade gratuita a famílias carenciadas e a suspensão da mobilidade de funcionários públicos, imposta pela troika, são outras medidas a caminho. Uma decisão simbólica foi o anúncio da reintegração das empregadas de limpeza das Finanças, transferidas para o quadro de disponíveis há ano e meio, que tinham montado um acampamento frente ao ministério.

O Conselho de Ministros antecedeu os primeiros contactos directos entre os novos governantes e os dirigentes europeus. Esta quinta-feira, o presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, vai a Atenas. E o titular da pasta dos Negócios Estrangeiros, Nikos Kotzias, participa na reunião de ministros dos Estrangeiros, em Bruxelas, onde deverá manifestar o incómodo do novo executivo por não ter sido consultado sobre a possibilidade de novas sanções contra a Rússia. O jornal Kathimerini escreveu que Atenas não foi consultada sobre essa eventualidade e equaciona mesmo um veto.

Mais importante para o “dossier dívida” é a visita, na sexta, de Jeroen Dijsselbloem, presidente do Eurogrupo, à capital grega. Tsipras acredita que as discussões com Dijsselbloem serão “cruciais e produtivas”.

O diálogo com os parceiros europeus passa também por encontros, previstos para os próximos dias, do ministro das Finanças, Yanis Varoufakis, com os homólogos francês e italiano. O objectivo é trabalhar para um “novo acordo” que substitua o actual programa de assistência, disse, sublinhando que “não haverá um duelo entre a Grécia e a Europa”.

O Governo alemão, principal defensor das políticas de austeridade, que segue com apreensão as decisões anunciadas em Atenas, não se pronunciou ainda sobre os primeiros gestos do executivo Tsipras. O porta-voz de Angela Merkel disse não querer comentar “medidas de política interna do Governo grego” e acrescentou que a Alemanha espera pela “estratégia global” de Atenas, que será discutida a nível europeu. "As nossas concepções [são] conhecidas”, acrescentou, contudo, Steffen Seibert.

Quem falou na primeira pessoa foi o vice-chanceler e ministro da Economia, Sigmar Gabriel, um social-democrata que não se deviou um milímetro da argumentação de Berlim. A Grécia, disse, deve respeitar os acordos com os credores. “Se se quer desviar de algumas dessas medidas, deve arcar com o custo”, afirmou, citado pela Reuters. “É claro que o objectivo é manter a Grécia na zona euro. Mas também é claro que precisamos de ser justos para com a nossa população e para com a dos outros estados do euro”, sublinhou.

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