Tsipras propõe referendo interno para resolver as divisões no Syriza

O primeiro-ministro grego diz que não pode continuar a governar com o apoio da oposição e não da totalidade do seu partido.

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Alexis Tsipras falou ao comité central do Syriza ANGELOS TZORTZINIS/AFP

A guerra aberta no interior do Syriza, que estalou na madrugada em que o primeiro-ministro grego aceitou as condições impostas pelos credores internacionais, está cada vez mais perto do seu momento decisivo. Esta quinta-feira, Alexis Tsipras foi dizer aos 201 membros do comité central, mas em particular às três dezenas que se opõem ao acordo com a troika, que têm de fazer uma opção: ou estão com ele até ao fim, e ajudam-no a aprovar leis sem o obrigarem a depender da oposição, ou aceitam ir a votos no interior do partido.

"Quem quiser um Governo diferente ou outro primeiro-ministro, deve dizê-lo. Quem defende que este é o pior memorando possível, deve dizê-lo agora", desafiou Tsipras, durante uma reunião dos dirigentes do Syriza num auditório de Atenas.

Para acabar de vez com as divisões, o primeiro-ministro e líder do Syriza propôs a convocação de um congresso extraordinário para Setembro, mas lançou também a ideia de o partido organizar um referendo interno já este domingo, para que os seus militantes digam se apoiam o Governo a concretizar as medidas acordadas com a troika, ou se preferem abandonar as negociações e, até, preparar o regresso à dracma, como defende o ex-ministro da Energia Panagiotis Lafazanis. A proposta para a realização de um referendo interno começou a ser debatida após a intervenção de Alexis Tsipras, e espera-se que o órgão do partido chegue a uma conclusão até ao final do dia.

A facção mais à esquerda, liderada precisamente por Lafazanis, exige o fim imediato das negociações com os credores e defende que as divergências internas devem ser discutidas no âmbito de um congresso, mas não extraordinário – a diferença é que a convocação de um congresso extraordinário exigiria a eleição de novos delegados, o que poderia favorecer o caminho defendido por Alexis Tsipras, que continua com índices de popularidade muito elevados, tanto no partido como no país.

Com a realização de um referendo e de um congresso extraordinário no Syriza, Tsipras pretende reforçar a sua posição no interior do partido, afastar os contestatários da Plataforma de Esquerda e abrir caminho à realização de eleições antecipadas – com o mesmo objectivo de reforçar a sua posição, desta vez na liderança do governo, contando com uma possível maioria absoluta.

"Estamos a dizer ao povo grego, alto e bom som, e sem arrependimentos, que este foi o acordo possível, e se alguém acredita que poderia fechar um acordo melhor, então que o diga. Se alguém acha que Tsipras e o Syriza recusaram uma alternativa melhor para o povo, deve dar a cara e afirmá-lo", declarou o primeiro-ministro grego, numa intervenção que levou rádios e televisões a interromperem as programações regulares.

Com o fim do apoio dos deputados associados à plataforma de esquerda, o Governo passou a necessitar dos votos dos partidos da oposição para fazer aprovar as leis exigidas por Bruxelas – apesar de contar com os 13 deputados do partido da coligação (o Anel, de extrema-direita), a oposição de três dezenas de deputados do Syriza fragilizou o seu grupo de 149 deputados, num Parlamento com 300 assentos.

Para agravar ainda mais o cenário, o jornal Financial Times avançou que o Fundo Monetário Internacional (FMI) está cada vez mais decidido a ficar de fora de um terceiro empréstimo. Segundo o jornal, os técnicos do FMI terão dito à sua direcção que a Grécia não está em condições de receber um novo empréstimo, e que a decisão final demorará "meses" a ser tomada.

O Financial Times cita um "resumo confidencial" da reunião, segundo o qual os técnicos consideram que Atenas não cumpre dois requisitos fundamentais: a "capacidade institucional e política" para concretizar as reformas exigidas pelos credores, e a "elevada probabilidade de a expectativa de a dívida pública do país não ser sustentável a médio prazo".

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