Tsipras defende Varoufakis e nega intenção de abandonar a zona euro

Ex-ministro das Finanças "pode ter cometido erros", mas não tinha "um plano satânico secreto para empurrar a Grécia para o precipício".

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Yanis Varoufakis ao lado da deputada do Syriza Vasiliki Katrivanou Yiannis Kourtoglou/Reuters

O primeiro-ministro da Grécia, Alexis Tsipras, confirma que o ex-ministro das Finanças Yanis Varoufakis tinha planos de emergência para o caso de o país ter de sair da zona euro, mas afirma que isso não pode ser interpretado como uma vontade de deixar a moeda única.

"O sr. Varoufakis pode ter cometido erros, todos cometemos. Podem acusá-lo de tudo o que quiserem por causa dos seus planos políticos, das suas declarações, do seu gosto por camisas, das suas férias em Aegina. Mas não podem acusá-lo de roubar o dinheiro do povo grego ou de ter um plano satânico secreto para empurrar a Grécia para o precipício", disse Tsipras, esta sexta-feira, no Parlamento grego.

O primeiro-ministro referia-se à gravação de uma conferência telefónica em que Yanis Varoufakis revelou ter elaborado um plano de emergência que estava pronto a ser accionado se a Grécia saísse da zona euro.

Na gravação – divulgada na íntegra pelo fórum que a organizou, "em nome da transparência", e que também está disponível em áudio – Varoufakis defendeu-se da acusação que lhe faziam de nunca ter pensado numa solução se o país saísse da zona euro.

Mais do que dizer que, afinal, sempre teve vários planos B, o ex-ministro descreveu um deles ao pormenor: entrar na base de dados da autoridade dos impostos e copiar os números de identificação de todos os contribuintes, para transmitir a sensação de normalidade possível a partir do momento em que o Banco Central Europeu cortasse definitivamente a linha de financiamento e os bancos e as caixas automáticas fechassem.

Este plano B de Yanis Varoufakis foi interpretado pelos seus críticos como a prova de que o ex-ministro fez tudo para que o país saísse do euro, mas os seus apoiantes dizem que problemático seria se o governo da Grécia não tivesse planos alternativos.  

"Ele tornou-se no bode expiatório perfeito por ter definido um plano de fuga audaz, para o caso de os credores da Grécia fecharem o sistema bancário do país e cortarem as suas relações económicas internacionais – como acabaram por fazer", escreveu no jornal britânico The Guardian Philippe Legrain, conselheiro para assuntos económicos do ex-presidente da Comissão Europeia Durão Barroso entre 2011 e 2014.

"Se bem que o plano de Varoufakis para criar um sistema de pagamentos paralelo com base nos registos fiscais do país era pouco ortodoxo, era perfeitamente compreensível. Até agora, Varoufakis tinha sido criticado por enfrentar os credores da zona euro sem ter preparado um plano B para o caso de as negociações falharem (...) Mas agora sabe-se que Varoufakis tinha mesmo um plano B, e está a ser atacado por isso também", criticou Legrain.

Também o economista Paul Krugman saiu em defesa do ex-ministro das Finanças grego, dizendo que "o verdadeiro choque seria se não houvesse planos de contingência".

"Prepararmo-nos para algo que sabemos que pode acontecer não significa que queremos que isso aconteça. Talvez um dia saibamos que planos tiveram os Estados Unidos ao longo dos anos. Planos para invadir o Canadá? Provavelmente. Planos para declarar a lei marcial no caso de uma revolta de supremacistas brancos? Talvez", escreveu no seu blogue no The New York Times.

O Nobel da Economia foi mais longe, defendendo que o plano B de Varoufakis deveria ter mesmo sido accionado pelo Governo grego: "O assunto agora é discutir se Tsipras decidiu bem ao não accionar esse plano perante o que se configura como uma extorsão por parte dos credores. Eu acho que ele tomou a decisão errada, mas só Deus sabe que era uma responsabilidade impressionante – e talvez nunca saibamos quem tinha razão."

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