Trump ridiculariza incapacidade física de jornalista do The New York Times

Durante um comício, o candidato à Casa Branca pelo Partido Republicano agitou os braços numa imitação de Serge Kovaleski, que sofre de artrogripose múltipla congénita.

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A direcção do jornal diz que o comportamento de Trump foi "ultrajante" Randall Hill/Reuters

O magnata norte-americano Donald Trump envolveu-se numa nova polémica, ao imitar a deficiência física de um jornalista do The New York Times que sofre de uma doença congénita.

Durante um comício no estado da Carolina do Sul, o candidato ao lugar de representante do Partido Republicano para as eleições de 2016 voltou a falar sobre uma outra polémica – a sua afirmação de que viu "milhares e milhares" de árabes a festejarem no estado de Nova Jérsia o atentado de 11 de Setembro de 2001 contra o World Trade Center, em Nova Iorque.

À falta de registos em vídeo e de testemunhos credíveis que comprovem a sua afirmação, Donald Trump tem citado um artigo publicado pelo jornal Washington Post no dia 18 de Setembro de 2001, assinado pelo jornalista Serge Kovaleski, que sofre de artrogripose múltipla congénita – uma doença que se caracteriza por contracturas articulares múltiplas.

"O Washington Post escreveu um artigo (…) que foi escrito por um bom jornalista, mas agora esse jornalista – têm de o ver a dizer 'Não sei o que disse, não me lembro!'", disse Trump, enquanto agitava os braços a imitar manifestações físicas que podem ser causadas pela doença que afecta Serge Kovaleski.

A direcção do The New York Times (onde Kovaleski trabalha actualmente) classificou o comportamento do candidato à Casa Branca como "ultrajante", e o jornalista disse ao Washington Post que não ficou surpreendido por Donald Trump ter feito "algo tão baixo, tendo em conta o seu historial".

O parágrafo da notícia publicada a 18 de Setembro de 2001 que tem sido usada por Donald Trump para defender a sua tese de que "milhares e milhares" de árabes festejaram os atentados terroristas não cita qualquer fonte: "A polícia deteve e interrogou várias pessoas que foram alegadamente vistas a festejar os ataques e a organizar festas em telhados enquanto assistiam à devastação do outro lado do rio."

O rumor de que os atentados terroristas tinham sido festejados pela comunidade árabe da cidade de Paterson, no estado de Nova Jérsia, começou a circular logo após a queda das torres gémeas, e os desmentidos também não tardaram – há registos de desmentidos de um dos responsáveis da polícia de Paterson e do mayor da cidade logo no dia 12 de Setembro de 2001.

Prova dos Factos: Houve festejos em Nova Jérsia depois dos atentados do 11 de Setembro?

Nos últimos dias, o jornalista Serge Kovaleski tem publicado e partilhado várias notícias que desmontam a afirmação de Donald Trump, tornando-se num dos alvos preferidos do candidato do Partido Republicano.

De acordo com os registos disponíveis, não há qualquer indício de que "milhares e milhares" de pessoas festejaram em Nova Jérsia o atentado contra o World Trade Center — no dia 11 de Setembro de 2001 as estações de televisão norte-americanas transmitiram imagens de celebrações supostamente protagonizadas por palestinianos na Cisjordânia. No dia dos ataques, o então líder da Autoridade Nacional Palestiniana, Yasser Arafat, condenou os atentados terroristas, que mais tarde vieram a ser reivindicados pela Al-Qaeda.

Donald Trump ainda não reagiu publicamente às críticas de que foi alvo por causa da sua mais recente polémica (uma das muitas que tem criado e alimentado, e que lhe dão, por enquanto, a liderança em várias sondagens entre os candidatos do Partido Republicano). Na quarta-feira partilhou várias mensagens na sua conta no Twitter com críticas à gestão e à qualidade jornalística do The New York Times.

Apesar de Trump estar na liderança das sondagens, é prematuro fazer previsões sobre o resultado de um processo eleitoral que só vai começar em Janeiro, assentes em inquéritos feitos a poucas centenas de pessoas (400, no caso de uma sondagem NBC/Washington Post) — e quando sete em cada dez apoiantes do Partido Republicano que vão votar nas primárias dizem que ainda não escolheram um candidato, segundo uma sondagem CBS/The New York Times.

É por isso que nomes como Jeb Bush e Marco Rubio têm ainda tempo para recuperar, até porque muitos dos candidatos menos bem posicionados nas sondagens (nove deles não ultrapassam, em média, os 5% nas intenções de voto) vão desistir da corrida até Janeiro ou no final das primeiras votações, nos estados do Iowa, do New Hampshire e da Carolina do Sul, o que obrigará os seus actuais apoiantes a procurarem outro candidato.

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