Trump confunde iranianos com curdos e não conhece os islamistas no Médio Oriente

Candidato às primárias republicanas erra na política externa. Segundo Trump, pouco importa, já que acredita que os actuais líderes islamistas não estarão lá quando ele chegar à Casa Branca.

Foto
O líder das sondagens no Partido Republicano assinou enfim uma promessa de lealdade ao partido Lucas Jackson/Reuters

Donald Trump não sabe distinguir o Hamas do Hezbollah, desconhece o nome dos líderes dos principais grupos islamistas no Médio Oriente e, segundo o próprio, não está interessado em sabê-lo. Pelo menos por enquanto. “Saberei as diferenças quando for apropriado”, disse Trump na quinta-feira a Hugh Hewitt, radialista conservador que fará parte da equipa de moderação do próximo debate de candidatos às primárias do Partido Republicano.

A troca de impressões, no tom directo e visceral que catapultou Trump para os holofotes dos media norte-americanos, seguiu-se a uma pergunta lançada por Hewitt em relação ao acordo nuclear iraniano. O apresentador procurou saber se Trump acreditava que o acordo alteraria a postura de hostilidade do general iraniano Qasem Soleimani, o líder das forças especiais das brigadas revolucionárias Quds, e o responsável por várias operações de milícias xiitas no Iraque contra o exército norte-americano. 

Mas Trump confundiu Quds com os curdos, o que levou Hewitt a perguntar se Trump sabia quem eram Hassan Nasrallah, o comandante do Hezbollah ; Ayman al-Zawahiri, o líder da Al-Qaeda; Abu Mohammad al-Julani, comandante da Frente al-Nusra; e Abu Bakr al-Baghdadi, o autoproclamado califa do Estado Islâmico. “Conhece já as figuras sem apoios para a memória, Donald Trump?”

“Não”, respondeu o magnata. “Vou falar honestamente: quando chegarmos ao Governo, eles já não serão os mesmos. Já terão desaparecido todos”, completou. Nasrallah, contudo, é líder do Hezbollah desde 1992; e Soleimani dirige as brigadas Quds desde 1998. Tudo coisas que Trump prometeu saber no momento em que chegar à Casa Branca. “Acredita em mim”, disse, dirigindo-se a Hewitt, “saberei muito mais do que tu em 24 horas, se conseguir o cargo”.

Trump, que fez fortuna no sector imobiliário, lidera há semanas as sondagens para o lugar de candidato do Partido Republicano á Casa Branca. O Real Clear Politics, site norte-americano que calcula diariamente a média das sondagens para as primárias às presidenciais de Setembro de 2016, dá nesta sexta-feira 27,2% dos votos republicanos ao magnata. E a tendência é de subida. Jeb Bush, ainda visto por muitos como o grande favorito, tem 9,2%.

Na quinta-feira, Trump assinou enfim o juramento de lealdade ao Partido Republicano, garantindo que não concorrerá como independente caso não vença as primárias. No primeiro debate entre candidatos republicanos, o empresário recusara-se a fazê-lo, entre vaias e aplausos do público. O magnata recordava então aos republicanos que lhes poderia roubar votos com uma candidatura independente, beneficiando os democratas.   

Na opinião de vários analistas, Trump atingiu o seu máximo e, daqui por diante, cairá nas sondagens à medida que se for reduzindo o campo de candidatos republicanos – são 17. Por enquanto, o magnata aproveita a grande onda de mediatização da sua campanha. Algo que é mal visto por alguns candidatos mais moderados, como Jeb Bush, irmão e filho de ex-Presidentes norte-americanos, que argumenta que os media não têm sido exigentes com Trump da mesma maneira que o seriam com ele.

“Este tipo é o líder da corrida”, disse recentemente Jeb Bush, numa acção de campanha em Vancouver, citado pelo New York Times. “Ele deveria ser tratado como o líder, não como algum tipo de universo paralelo do sistema político.”

Bush referia-se a declarações racistas de Trump, que generalizou os imigrantes mexicanos nos Estados Unidos como “traficantes de droga” e “violadores”, e a algumas propostas do magnata, como, por exemplo, a de construção de um muro entre o México e os Estados Unidos, que voltou a mencionar na mesma entrevista. “Ninguém sabe como seria fácil [construir o muro]. Seria alto, poderoso, faríamos com que fosse muito bonito. Seria tão bom quanto um muro pode ser. E ninguém o conseguirá trepar. Acreditem em mim.”

Sugerir correcção
Comentar