Tropas francesas avançaram sem resistência até às portas da “delicada” Tombuctu

Islamistas escaparam para o deserto mas a Al-Qaeda prometeu que regressarão com mais força às cidades do Norte.

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Soldados malianos às portas de Tombuktu FRED DUFOUR/AFP

Os soldados franceses e do Exército do Mali encontraram pouca resistência no seu avanço para Norte pelo deserto até às portas de Tombuctu, a cidade património mundial que, segundo a Unesco, vivia sob o risco de destruição irreversível, depois de ter sido tomada por combatentes islamistas que rapidamente instalaram a lei da sharia.

“Tombuctu é especialmente delicada. Não podemos entrar de qualquer maneira”, explicou à Reuters uma fonte da operação militar no Mali que pediu para não ser identificada. Mas as tropas acabaram por restabelecer a autoridade do Estado na mítica cidade-oásis do deserto, um dos mais importantes centros do conhecimento e da cultura islâmica no mundo árabe durante séculos.
 
A comunicação com a população de Tombuctu era praticamente impossível, mas a Reuters citava um residente que tinha recebido um SMS confirmando a presença de tropas governamentais dentro de muros.

O Exército do Mali impediu os jornalistas internacionais de seguir o movimento das unidades militares até Tombuctu. Aliás, a comunicação social só foi autorizada a entrar em Konna, cuja captura precipitou o envio de tropas de Paris, uma semana depois do fim dos combates.
 
O progresso das colunas militares de Bamaco até Gao e Tombuctu, já em pleno Sara, foi rápido: em menos de duas semanas, os soldados franceses expulsaram os rebeldes de Konna, Diabaly e Douentza, no centro do país, e entraram no território que era reclamado pelos separatistas tuaregues (a rebelião secular independentista do povo Azawad foi entretanto “engolida” pelos extremistas).
 
A Força Aérea francesa iniciou já a campanha sobre Kidal, o terceiro bastião do Norte ainda nas mãos dos islamistas do Ansar Dine. Segundo a mesma fonte militar, a residência do líder dos Defensores da Fé, Iyad ag Ghali, foi um dos alvos destruídos pelas bombas francesas.
 
Libertada na noite de sábado, Gao — a cidade mais populosa do Norte do Mali, com 60 mil habitantes —– estava ontem sob a vigilância das tropas do Níger e do Chade, que tinham por missão impedir uma eventual investida dos rebeldes que escaparam para o deserto.

Segundo a Associated Press, o Movimento de Unidade e Jihad da África Ocidental (MUJAO) que governava Gao há dez meses tinha ligações com o grupo de Mokhtar Belmokhtar, o terrorista que organizou o ataque a um campo de gás natural no Sul da Argélia há pouco mais de uma semana. Combatentes argelinos, egípcios, mauritânios, líbios, tunisinos e até paquistaneses e afegãos, recrutados por Belmokhtar, terão sido utilizados na campanha do MUJAO.
 
Uma declaração enviada pela Al-Qaeda no Magrebe Islâmico (AQMI) para a estaçãocadeia de televisão pan-árabe Al-Jazira esclarecia que os insurrectos tinham optado por uma “retirada estratégica mas temporária” de algumas localidades, e prometia que regressariam “com maior força” para retomar o seu território. Mas sem equipamento, e com as principais estradas barradas, parecia pouco provável que os islamistas conseguissem organizar uma contra-ofensiva.
 
A situação no Mali dominou ontem o arranque da cimeira dos líderes da União Africana (UA) reunidos na capital da Etiópia e duramente criticados pela inacção dos seus governos perante as conquistas dos rebeldes islamistas. “Não percebo porque é que quando foi confrontada com um perigo tão ameaçador, e apesar de ter meios para se defender, a África preferiu esperar que outros avançassem”, lamentou o presidente do Benin e da UA, Thomas Boni Yayi.

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