Tribunal anula suspensão de Jean-Marie Le Pen da Frente Nacional

Fundador do partido de extrema-direita viu a justiça devolver-lhe a militância e o estatuto de presidente honorário. FN irá votar a decisão do afastamento, junto dos seus militantes.

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Jean-Marie Le Pen festejou o seu regresso à FN THOMAS SAMSON/AFP

A guerra aberta entre Jean-Marie Le Pen, fundador da Frente Nacional (FN), e a actual líder do partido, a sua filha Marine, conheceu na quinta-feira mais um capítulo. O tribunal de Nanterre anulou a suspensão da militância do político no partido de extrema-direita. A FN anunciou que vai recorrer da decisão e que irá decidir a suspensão e a destituição do cargo de presidente honorário de Jean-Marie Le Pen, através de uma votação dentro do partido.

“O Sr. Le Pen poderá, a partir de amanhã de manhã, começar a utilizar novamente o seu escritório (…) e sentar-se em todas as estruturas das quais fazia parte, enquanto presidente honorário”, anunciou o seu advogado, Frederic Joachim, citado pela agência Reuters.

Os juízes do tribunal de Nanterre, nos arredores de Paris, consideraram que o procedimento de suspensão de Le Pen não foi feito correctamente, nomeadamente, porque não incluía o período da sanção a impôr, segundo informa o jornal francês Le Monde. Decidiram, pois, anular a decisão de suspensão, tomada pela FN no dia 4 de Maio, e ordenar o partido a devolver ao seu histórico fundador “todos os direitos inerentes ao estatuto de membro”.

As querelas entre Jean-Marie e Le Pen e a filha  tornaram-se públicas em 2014, três anos depois de Marine assumir a liderança do partido de extrema-direita. A actual líder da FN criticou publicamente o seu pai, nomeadamente a sua descrição do Holocausto como “um pequeno detalhe” na História e os constantes comentários “destrutivos” para o partido. Em Abril de 2015, Marine Le Pen afastou o fundador das listas de candidatos para as eleições regionais, marcadas para Dezembro, acusando as últimas declarações do pai como um “suicídio político”.

Em Maio deu-se a ruptura total. Nas comemorações habituais de homenagem a Joana d’Arc, organizadas pela FN, no Dia do Trabalhador, Jean-Marie Le Pen subiu ao palco no momento em que a filha se preparava para falar e ali ficou, agradecendo os aplausos dos militantes do partido. Depois abandonou o palco e não ficou para ouvir o discurso de Marine. Três dias mais tarde, foi suspenso do partido, pelo conselho executivo, convocado para discutir as sanções disciplinares que lhe seriam aplicadas, e proibido de “voltar a expressar-se em nome da FN”.

Le Pen afirmou que sentia vergonha que a sua filha utilizasse o seu apelido e resolveu levar a decisão do conselho executivo da FN para os tribunais. Na quinta-feira, após ser conhecida a decisão do tribunal de Nanterre, Jean-Marie publicou uma mensagem no Twitter, congratulando-se com a mesma e apelando à união do partido. “Ao trabalho!”, pediu o antigo dirigente político, que tem 87 anos.

Mas este apelo à união não parece coincidir com a posição de Marine Le Pen. À estação de rádio France Info, a líder do partido, que aposta na normalização da FN com o intuito de concorrer às presidenciais de 2017, afirmou que os desentendimentos com o pai são “de fundo” e que não há “marcha atrás” no seu processo de afastamento.

Para além de recorrer da decisão do tribunal, o partido irá incluir a destituição do cargo honorário de Jean-Marie Le Pen junto da votação, por correio, para a aprovação dos novos estatutos da FN, dando oportunidade aos mais de 85 mil militantes de decidir o futuro do homem que fundou o partido, em 1970.

“Em termos concretos, [a decisão do tribunal] não muda nada”, partilhou Nicolas Bay, o secretário-geral da FN, citado pela BBC. Uma vez que o prazo da votação acaba no dia 10 de Julho deste ano, Jean-Marie apenas fará parte “da liderança da FN durante uma semana”, disse Bay.


Texto editado por Ana Gomes Ferreira
 

   


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