Três padres detidos em Espanha por pedofilia, num caso em que o Papa interveio pessoalmente

Vítima escreveu carta ao Papa Francisco, que lhe telefonou. Depois disso, fez também denúncia à justiça espanhola, que fez as primeiras prisões.

Foto
O Papa Francisco pediu perdão ao denunciante do caso em nome da Igreja Tony Gentile/REUTERS

Três padres de Granada e um leigo foram detidos nesta segunda-feira, no âmbito da investigação de um caso de abusos sexuais denunciado directamente por uma vítima ao Papa Francisco, e que está a ser investigado também pela justiça civil espanhola.

Um dos detidos, confirmou o ministro do Interior, Jorge Fernández Díaz, é o padre Roman, de 61 anos. É apontado como o líder do clã dos Romanones – uma designação escolhida por causa do seu nome – diz o El País. Os juízes de Granada investigam, no total 12 pessoas, entre clérigos e leigos, que um professor universitário, de 24 anos, denunciou como membros de um grupo que praticam abusos sexuais contra menores, dos quais ele próprio foi alvo, entre os 13 e os 17 anos.

O denunciante escreveu ao Papa Francisco para contar como entrou em contacto com este grupo aos sete anos, por ser acólito na missa da paróquia de San Juan María de Viannei, em Granada, onde fez a catequese e a comunhão. Era ali que os Romanones recrutavam crianças para o que parecia funcionar como uma seita que tinha o sexo no centro das intenções, com orgias e masturbações colectivas frequentes, segundo o relato que faz e é citado pelo El País.

“O amor é livre e eleva o espírito”, era a máxima proclamada pelo líder desta organização, segundo o denunciante, que hoje é supranumerário da Opus Dei – faz parte desta ordem religiosa católica, mas não está obrigado ao celibato.

A história foi conhecida há cerca de uma semana, quando o portal Religion Digital divulgou a surpreendente conversa que o jovem professor da Opus Dei teve no dia 10 de Agosto, quando atendeu uma chamada no seu telemóvel, ao parar num sinal vermelho.

“Quem é?” pergunta Daniel (nome fictício), uma vez que o ecrã mostra apenas “número desconhecido".

 “Estou a falar com o senhor Daniel?”, respondem do outro lado.

“Sim, quem fala?”, interroga, perante uma voz desconhecida mas estranhamente familiar.

“Boa tarde, filho, fala o padre Jorge.”

“Perdão, mas não conheço nenhum padre Jorge.”

“Bem, é o Papa Francisco.”

Nesse telefonema, o Papa pediu-lhe “perdão em nome da Igreja de Cristo”, por este “gravíssimo pecado e gravíssimo crime”. A  boa recepção que encontrou no Papa encorajou-o a fazer denúncias à justiça espanhola – o que deu origem às detenções desta segunda-feira.

Daniel foi convencido pelo líder dos Romanones a ir viver com eles aos 17 anos. Mas passado algum tempo, afirma, “descobri a grande farsa que este homem montou.” Nunca pôde dormir sozinho. “Nunca tive cama própria na casa paroquial, tinha de dormir todos os dias na sua cama.” Nem dormiu sozinho nas outras 19 casas – muitas delas imóveis de luxo – às quais ia com os outros Romanones nos fins-de-semana, e onde havia também actividades sexuais, com mais crianças.

A polícia fez buscas nestes imóveis, alguns dos quais foram herdados por um dos elementos do grupo de uma idosa farmacêutica que morreu em 2009, e valem, em conjunto, mais de três milhões de euros, diz o El País.

Estes padres foram afastados pelo arcebispo de Granada, após a investigação forçada pelo Papa e, na missa de domingo na catedral, o arcebispo Francisco Javier Martínez pediu perdão, prostrando-se perante o altar maior, deixando-se ficar assim, de rosto no chão, durante alguns minutos. Este gesto, que só se costuma realizar na sexta-feira santa, foi uma forma de pedir desculpa às pessoas que, “por culpa nossa” possam ter sido “escandalizadas ou feridas".

Sugerir correcção
Ler 3 comentários