Três jihadistas queimam passaportes e desafiam França em novo vídeo de propaganda

Imagens divulgadas depois de identificados dois franceses no vídeo da decapitação de soldados sírios. Radical diz que quem não puder juntar-se ao Estado Islâmico deve "agir em França".

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Os três franceses entre outros jihadistas no vídeo agora divulgado AFP

Com as secretas de todo o mundo a tentar ainda identificar os jihadistas que surgem de cara destapada num vídeo em que são decapitados 18 soldados sírios, a propaganda do Estado Islâmico lançou outro desafio: três combatentes surgem numa gravação a queimar os seus passaportes franceses e a apelar a todos os “irmãos muçulmanos” a que se juntem às suas fileiras. Se não o puderem fazer, devem espalhar o terror nas ruas do país.

As novas imagens agitam um pouco mais a opinião pública do país, ainda a digerir a informação que dois dos carrascos que aparecem no vídeo divulgado domingo – e que termina com a exibição da cabeça decepada do norte-americano Peter Kassig – têm nacionalidade francesa. Um deles, identificado por fontes dos serviços de imigração como Mickaël dos Santos, é filho de imigrantes portugueses, oriundos do Ribatejo, adiantou o PÚBLICO na terça-feira.

“O vídeo está a ser analisado por peritos da DGSI [a Direcção Geral de Informações Internas] desde quarta-feira à noite”, disse à AFP fonte das investigações. O responsável adiantou que as secretas vão usar os mesmos métodos que permitiram identificar os outros dois jihadistas – programas informáticos de reconhecimento facial e cruzamento de informações – para apurarem os nomes dos três homens que surgem nestas novas imagens, vestidos com camuflado e armados de Kalachnikov.

“Rejeitamos-vos e aos vossos passaportes, viemos aqui para vos combater”, diz um deles frente à fogueira onde são deitados os documentos de identificação, simbolizando a viagem sem retorno que dizem ter feito em direcção ao autoproclamado califado.

Paris diz que há 376 cidadãos franceses a combater na Síria e no Iraque, a que se juntam 1132 pessoas sob investigação por terem regressado ou manifestado intenção de viajar para a região. Estes números confirmam a França, a par da Bélgica, como um dos principais países de origem dos três mil europeus que se juntaram às fileiras dos radicais. Mas são os rostos – que a propaganda do Estado Islâmico faz agora questão de mostrar – que tornam mais real a ameaça do jihadismo, para a qual nenhuma capital conseguiu encontrar resposta.

No vídeo agora divulgado, um dos jihadistas identificado como Abu Maryam al-Faranci ("Pai de Maryam, o Francês") avisa que o Estado Islâmico vai cortar as cabeças “dos inimigos do islão”. “Ireis ter medo até de ir ao supermercado”, diz, empunhando uma faca de serrilha. Ao seu lado, Abu Osama al-Faranci critica todos os muçulmanos que continuam a viver longe do califado proclamado em Junho pelo líder do Estado Islâmico. E um terceiro desafia os que não conseguem juntar-se-lhes a “agir em França”. “Aterrorizai-os e não os deixeis dormir com medo.”

Vídeos semelhantes foram divulgados nos últimos meses por combatentes de outros países, com o mesmo propósito de recrutar novos combatentes e instigar o medo – o momento escolhido para esta divulgação pode, no entanto, ter sido decidido para potenciar o efeito gerado em França pela identificação dos dois jihadistas. Aproveitando as ondas de choque, a líder da Frente Nacional, Marine Le Pen, acusou na quarta-feira o Governo de omitir a verdadeira dimensão do problema, dizendo que “quatro mil franceses partiram para a jihad, não mil”. “É preciso pô-los a todos na prisão para o resto da vida.”

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