Três dirigentes do Sindicato dos Jornalistas detidos no Egipto

Amnistia Internacional fala no “mais flagrante ataque contra os media em décadas” no Egipto e numa “repressão sem precedentes da liberdade de imprensa”.

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O presidente do sindicato exigiu a demissão do ministro do Interior, que supervisiona a polícia Patrick Baz/AFP

O presidente dos Sindicato dos Jornalistas Egípcio e outros dois dirigentes estão detidos no Cairo depois de se terem recusado a pagar a caução que lhes foi exigida no final de 12 horas de interrogatório. Os três são suspeitos de “abrigarem fugitivos” e “difundirem informações falsas”, no que a Amnistia Internacional descreve como “o mais flagrante ataque contra os media em décadas” no Egipto e uma “repressão sem precedentes da liberdade de imprensa”.

Os três foram domingo ao gabinete do procurador do Cairo, que os convocara. Para os libertar, o procurador exigiu que pagassem 10 mil libras egípcias (1000 euros) cada. Como recusaram foram detidos numa esquadra da capital.

Isto acontece menos de um mês depois do raide da polícia contra a sede do sindicato, a 1 de Maio, para deter dois jornalistas, acusados de envolvimento em protestos ilegais contra o Estado e de “usarem notícias falsas” para incitarem os manifestantes “a confrontarem as forças policiais e a atacarem instalações públicas vitais”.

O acto sem precedentes levou o presidente do sindicato, Yahya Qalash, a exigir um pedido de desculpas do Presidente e a demissão do ministro do Interior, exigências que tiveram eco nas primeiras páginas de muitos jornais do país. As autoridades desmentem que a polícia tenha entrado à força no edifício.

Tudo começou em Abril, quando a pretexto da decisão de entregar à Arábia Saudita a soberania de duas ilhas disputadas no mar Vermelho, milhares de egípcios voltaram a sair à rua em protesto contra a repressão do regime, os primeiros protestos com alguma dimensão desde a chegada ao poder de Abdel Fattah Sissi, que liderou o golpe contra Mohamed Morsi (primeiro chefe de Estado democraticamente eleito do país), em 2013, e se fez eleger no ano seguinte. Centenas de pessoas foram detidas e o regime decidiu proibir as notícias sobre estas detenções – os dois jornalistas detidos no princípio do mês tinham recusado seguir estas ordens.

Para além de Qalash, estão detidos no Cairo Gamal El-Bashy, secretário-geral do sindicato, e Gamal Abd Rahim, que dirige a sua Comissão das Liberdades. “Recusamos pagar porque as acusações estão ligadas e notícias publicadas e isso não deve envolver nem prisão nem pagamento de caução”, diz Qalash, citado pela Associated Press.

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