Três civis e sete soldados mortos em novos combates em Donetsk

Forças separatistas tentam assumir o controlo do aeroporto da cidade. É o incidente mais grave desde a entrada em vigor de um cessar-fogo, a 5 de Setembro.

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Os combates pelo controlo do aeroporto de Donetsk nunca foram interrompidos Marko Djurica/Reuters (Arquivo)

O frágil cessar-fogo no Leste da Ucrânia sofreu nas últimas horas o maior golpe desde que entrou em vigor, no dia 5 de Setembro. Os combates pelo controlo do aeroporto de Donetsk, que continua nas mãos do Exército de Kiev, fizeram dez mortos, entre os quais três civis, e 14 feridos.

Como é habitual, as duas partes acusam-se mutuamente de terem provocado os confrontos da última madrugada, mas a luta pelo controlo do aeroporto de Donetsk nunca sofreu qualquer paragem significativa, independentemente dos acordos que têm sido assinados.

O porta-voz do Exército da Ucrânia, Andri Lisenko, disse que sete soldados ucranianos foram mortos na noite de domingo para segunda-feira nas proximidades do aeroporto de Donetsk, quando o veículo em que seguiam foi destruído por um ataque dos separatistas pró-russos.

Pouco depois, Iuri Biriukov, um conselheiro do Presidente da Ucrânia, Petro Poroshenko, escreveu na sua página no Facebook que o veículo em causa foi alvejado por um tanque dos separatistas e que nove soldados ucranianos ficaram feridos no mesmo ataque. Na mesma mensagem, Biriukov avançou que o tanque dos separatistas foi destruído pelas forças pró-Kiev.

Já na manhã desta segunda-feira, as autoridades de Donetsk – uma cidade em grande parte controlada pelos separatistas pró-russos – avançaram que pelo menos três civis morreram e cinco ficaram feridos na sequência de bombardeamentos.

"A situação é muito tensa na cidade e ouvem-se explosões e disparos de armamento pesado em vários bairros", lê-se num comunicado da Câmara de Donetsk, citado pelas agências AFP e Reuters.

De acordo com vários repórteres em Donetsk, está em curso uma nova ofensiva dos separatistas para assumirem o controlo total do aeroporto de Donetsk.

A guerra no Leste da Ucrânia, que começou nos primeiros dias de Abril, já faz cerca de 3500 mortos, segundo os dados das Nações Unidas, incluindo as 298 pessoas que morreram no abate do voo MH17 da Malaysia Airlines, a 17 de Julho. O número de vítimas mortais tinha vindo a baixar nas últimas semanas, após a assinatura de um cessar-fogo, no dia 5 de Setembro, e de um acordo para a criação de uma zona de segurança, no dia 20 de Setembro.

Mais do que da solidez de um cessar-fogo, o futuro do Leste da Ucrânia depende do estatuto político das províncias de Donetsk e Lugansk. Em Kiev, a concessão de uma maior autonomia às áreas controladas pelo separatistas durante os próximos três anos, aprovada pelo Parlamento ucraniano no dia 16 de Setembro, é vista por muitos como uma concessão inaceitável; do outro lado, os líderes dos separatistas não abdicam de reivindicar a total independência em relação à Ucrânia.

Quando aprovaram a lei que na prática entrega o poder aos separatistas em algumas regiões de Donetsk e Lugansk, os deputados do Parlamento ucraniano aprovaram também a marcação de eleições locais para o dia 7 de Dezembro. Em resposta, os líderes separatistas disseram que não vão respeitar essa votação, nem as eleições legislativas antecipadas, marcadas para 26 de Outubro. Em vez disso, vão organizar eleições no dia 2 de Novembro para escolherem os seus próprios parlamentos e presidentes.

Manifestantes derrubam estátua de Lenine
Enquanto decorriam combates na província de Donetsk, um pouco mais a Norte, na vizinha Kharkov, uma multidão de ucranianos derrubava uma estátua de Lenine, num gesto simbólico de afastamento em relação a Moscovo.

Na capital da província, também chamada Kharkov – a segunda maior cidade da Ucrânia, a seguir a Kiev –, os manifestantes derrubaram a gigantesca estátua do antigo líder soviético situada na Praça da Liberdade.

O derrube desta estátua de Lenine é particularmente simbólico porque a cidade de Kharkov situa-se a apenas 40 quilómetros da fronteira com a Rússia e a maioria dos seus habitantes fala russo.

A sede do governo regional chegou a ser ocupada por separatistas pró-russos no dia 7 de Março, mas voltou ao controlo das forças de Kiev no dia seguinte. Por essa altura houve outras tentativas por parte dos separatistas de instaurarem uma República Popular de Karkhov – à semelhança das vizinhas repúblicas populares de Donetsk e Lugansk –, mas desde Abril que a cidade permanece sob controlo das autoridades de Kiev.

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