Três activistas curdas abatidas a tiro em Paris

Mulheres foram encontradas mortas na sede do Instituto Curdo de Paris. Uma das vítimas é fundadora do Partido dos Trabalhadores do Curdistão, o grupo separatista militante proibido pela Turquia.

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Sakine Cansiz, fundadora do partido PKK, uma das três mulheres encontradas mortas AFP
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O ministro Manuel Valls e o director da Polícia Christian Flaesch conversam com um elemento de uma associação curda AFP
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Membros da comunidade curda em França manifestam-se frente ao local onde o crime ocorreu AFP

Três activistas curdas foram encontradas mortas com um tiro na cabeça na sede do Instituto Curdo de Paris, uma associação da comunidade curda do centro da capital francesa.

As mulheres – entre as quais uma fundadora do Partido dos Trabalhadores do Curdistão (PKK), o grupo militante que reclama a separação da Turquia – foram “abatidas, sem dúvida executadas”, declarou o ministro do Interior francês, Manuel Valls, que visitou o local do crime na manhã desta quinta-feira.

“É um crime muito grave, inaceitável”, prosseguiu o governante, que garantiu a “total determinação” das autoridades francesas na investigação do crime. O caso foi entregue ao departamento antiterrorismo da polícia.

Segundo a polícia, as vítimas são a presidente do Instituto, Fidan Dogan, de 32 anos; a dirigente e fundadora do PKK, Sakine Cansiz; e ainda Leyla Soylemez, identificada como uma “jovem activista”.

Fontes policiais citadas pela AFP disseram que a cena do crime indica ter-se tratado de uma execução. “O inquérito deverá agora esclarecer as circunstâncias exactas do drama”, refere um responsável pela investigação.

Leon Edar, dirigente da Federação das Associações Curdas, disse à agência francesa que as três mulheres se encontravam sozinhas no centro comunitário, que ocupa o primeiro piso de um edifício na Rua Lafayette do 10.º bairro (Xe Arrondissement) de Paris.

O alarme foi dado terça-feira à noite, quando um membro da comunidade não conseguiu entrar na sede onde tinha um encontro marcado. Perante a ausência de resposta do interior, o indivíduo contactou outros responsáveis que se dirigiram ao local e encontraram manchas de sangue na porta.

Depois de forçarem a entrada, já de madrugada, depararam-se com os cadáveres das mulheres: duas com um tiro na nuca, e outra com ferimentos no peito e ventre, relata a AFP.

Esta manhã, centenas de curdos concentraram-se em frente ao local do crime, numa vigília espontânea que é também uma manifestação de protesto. “A Turquia é assassina e Hollande cúmplice”, gritaram os manifestantes, agitando bandeiras com a efígie do presidente dos rebeldes curdos, Abdullah Öcalan, a cumprir pena de prisão perpétua na Turquia, que considera o PKK uma organização terrorista.

Os números do Instituto Curdo de Paris, referentes ao censo de 2006, apontavam a existência de uma população curda de cerca de 150 mil pessoas em França, 90% das quais curdos da Turquia.

 
O Partido para a Paz e a Democracia, principal organização política curda na Turquia, pediu explicações ao Governo francês e disse que os residentes curdos em França deviam manifestar-se contra o massacre. “Esperamos por um esclarecimento cabal e que não deixe qualquer dúvida sobre estas mortes”, reagiu o presidente do partido, Selahattin Semirtas.

O vice-presidente do Partido da Justiça e Desenvolvimento, no poder na Turquia, avançou a hipótese de o crime de Paris ter sido um “ajuste de contas” das diferentes facções do PKK. “É sabido que existem dissensões e clivagens no seio do movimento”, declarou Hüseiyn Celik.

 
Mas Demirtas desmentiu essa tese e ripostou contra Celik. “O que me pergunto, face a tal declaração, é se aqueles que se apressam a encontrar justificações não serão os que estão por trás dos planos para este massacre. Será essa a razão pela sua pressa?”, questionou.

O PKK, fundado em 1978 por Öcalan e Sakine Cansiz, enveredou pela luta armada em 1984. O seu objectivo é o estabelecimento do Estado independente do Curdistão, que integra território da Turquia, Iraque, Síria e Irão. Mais de 45 mil pessoas já morreram nos quase 30 anos que dura o conflito com a Turquia.

O primeiro-ministro turco, Recep Tayyip Erdogan, abriu negociações com Abdullah Öcalan para pôr fim à violência do PKK, que se calcula ainda tenha mais de 8000 membros armados. 
 

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