Trégua em Gaza mantém-se apesar de disparos

Extensão por mais cinco dias após um período inicial de 72 horas enquanto dois lados negociam acordo difícil.

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Mesquita destruída por bombardeamento israelita em Gaza. O cimento é um material em discussão no acordo de cessar-fogo ROBERT SCHMIDT/AFP

O começo da trégua renovada entre israelitas e palestinianos não foi o mais auspicioso: mesmo quando expirava a última das tréguas temporárias acordadas, Israel denunciou o disparo de oito rockets vindos da Faixa de Gaza, e respondeu com ataques aéreos. Mas nenhum dos ataques fez vítimas e a violência parou pouco depois.

Esta é a oitava trégua e a maior estabelecida até agora nas cinco semanas desde que Israel começou uma operação em Gaza que deixou até agora 1954 mortos do lado palestiniano e 67 do lado israelita.

O objectivo é dar tempo a negociações (indirectas), a decorrer no Cairo. As conversações têm esbarrado em exigências de ambos lados inaceitáveis para o outro. O Hamas quer o levantamento do bloqueio ao território que dura há oito anos e impede a entrada de muitos materiais essenciais à economia; Israel teme que entre material que sirva para armar os grupos palestinianos ou construir os túneis através dos quais os seus combatentes tentam entrar em Israel e raptar ou atacar soldados. O cimento é um material especialmente controverso porque pode ser destinado aos túneis mas é essencial para a reconstrução do território após a devastação dos ataques do último mês.

Israel quer a desmilitarização total do território, o Hamas recusa perder a sua característica essencial que é lutar contra uma força ocupante e um Estado que não reconhece.

Actualmente a negociação centra-se numa flexibilização do bloqueio, com entrada de mais bens sob supervisão, aumento da zona de pesca para os pescadores de Gaza que viram o limite tão reduzido que mal têm o que pescar, e uma discussão sobre um eventual porto de Gaza (que já existiu mas foi destruído por Israel, tal como um aeroporto) adiada.

Qualquer abertura do território sem uma supervisão apertada está fora de questão não só para Israel como para o Egipto, que teme o Hamas como movimento ligado à Irmandade Muçulmana, que as autoridades militares do Cairo ilegalizaram e perseguem (ainda esta semana a Human Rights Watch denunciou um plano organizado para matar apoiantes da Irmandade e do Presidente deposto Mohamed Morsi em Agosto do ano passado, quando as forças egípcias desmantelaram acampamentos de protesto matando centenas de manifestantes).

Responsáveis expressaram um optimismo cauteloso. O Hamas disse que pela primeira vez via uma disposição real para negociar da parte do Estado hebraico.

Ambos os lados estão pressionados ainda pelas suas opiniões públicas, e ambos sofreram perdas sentidas como pesadas. Do lado do Hamas, o elevado número de vítimas mortais civis e a enorme devastação do território faz com que sinta que tem de conseguir um bom acordo, se não todo o sacrifício terá sido em vão.

Do lado de Israel, 64 soldados morreram, um número também alto, com um ambiente muito pouco favorável a fazer concessões ao Hamas.

Por outro lado, para ambos a continuação da situação não é boa. A recuperação de Gaza, ainda a enfrentar uma crise humanitária, só começará depois de haver um acordo. A Israel também não interessa ter os seus habitantes sujeitos a alertas e a terem de fugir para abrigos ciclicamente, e menos ainda entrar novamente em Gaza com custos de baixas militares e críticas internacionais.

Analistas dizem que se as duas partes não chegarem a acordo, deverá seguir-se uma guerra de baixa intensidade com rockets esporádicos e ataques aéreos pontuais. No entanto, esta apenas adiaria um novo confronto entre Hamas e Israel – a guerra actual foi a terceira dos últimos seis anos.

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