Tragam de volta as nossas meninas

A condenação internacional a este deve ser firme o suficiente para dissuadir aqueles que acham que barbáries como esta podem ser toleradas.

200! Duzentas! O choque com que recebemos a notícia sobre o rapto de 200 meninas que frequentavam a escola secundária de Chibok , na Nigéria, levadas do seu dormitório, para se tornarem escravas sexuais ou para serem forçadas a casar precocemente, vem reforçar a certeza com que nos temos dedicado à promoção da igualdade de género, ou seja, não há igualdade de género.

Não há um único país no mundo que possa dizer que eliminou todas as formas de discriminação contra meninas, raparigas e mulheres, não obstante os progressos assinaláveis que se têm feito.

Este rapto na Nigéria veio lançar luz sobre a secundarização do papel das raparigas e mulheres em muitas partes do planeta, para a sua escassa participação no espaço público, seja ele político, associativo ou económico, e para a sua vulnerabilidade acrescida – em estados frágeis e em zonas de conflito essa vulnerabilidade traduz-se em violações como arma de guerra, em aprisionamento e escravidão sexual e em tantas outras atrocidades condenadas pelos tratados internacionais de direitos humanos que sustentam a comunidade internacional.

O casamento forçado precoce é uma das mais perversas violações dos direitos humanos de mais de 38.000 meninas e raparigas, todos os anos. Perversa porque oculta sob o manto da cultura e das práticas tradicionais, perversa porque condena milhares de meninas e raparigas à discriminação, ao isolamento, a uma maior vulnerabilidade a gravidezes indesejadas e problemas de saúde, à exclusão da escola e da sociedade.

No caso das meninas da Nigéria, não só paira sobre si e sobre as suas famílias a ameaça deste destino, como a possibilidade de as mesmas se tornarem escravas sexuais ou, como foi mais recentemente anunciado pelo líder do grupo extremista islâmico Boko Haram, a ser usadas como moeda de troca para a libertação de detidos nas cadeias nigerianas.

Em ambos os cenários há uma profunda desvalorização destes 200 seres humanos apenas pela razão de terem nascido com o sexo feminino e de terem ousado – como Malala o fez – ir à escola e exercer um dos seus direitos fundamentais.

A escolarização é o caminho para o desenvolvimento, para a liberdade e para a emancipação. É a via para que meninas, raparigas e mulheres ganhem voz nas suas famílias, comunidades e países. E é exatamente isto que está a ser negado às meninas da Nigéria.

Raptos, casamentos forçados precoces, violações, práticas tradicionais nefastas, negação do seu direito à saúde e à educação, condenação à pobreza, à invisibilidade e à discriminação são narrativas demasiado frequentes para possamos ficar passivos. Mesmo que aconteçam em paragens longínquas. Os direitos humanos são universais e devem ser garantidos a todos sem distinção.

A condenação internacional a este rapto, à instrumentalização destas meninas e à negação dos seus direitos humanos deve ser firme o suficiente para dissuadir aqueles que acham que barbáries como esta podem ser toleradas. A medida da nossa condenação traduz a medida da nossa humanidade.

E o que está em causa é apenas exigir que as nossas meninas e raparigas regressem em segurança #bringbackourgirls.

Deputados do PSD

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