Trabalhistas britânicos a favor do referendo à União Europeia

O Labour aceita a votação e diz que é preciso rever a livre circulação de cidadãos. Mas é contra a saída do clube de Bruxelas.

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A líder interina do Labour, Harriet Harman, escreveu que o partido quer "reformar" a UE Suzanne Plunkett/Reuters

O Partido Trabalhista deixou cair a sua oposição ao referendo sobre a presença do Reino Unido na União Europeia, que o Governo conservador quer realizar até 2017. "O povo britânico quer ter uma palavra a dizer sobre a sua presença na União Europeia. Por isso o Labour apoia o referendo", escreveram dois responsáveis do partido num artigo publicado neste domingo no Sunday Times.

No texto, a líder interina do partido, Harriet Harman, e o ex-ministro sombra dos Negócios Estrangeiros, Hilary Benn, explicam que a mudança de posição se deve ao resultado das legislativas de 7 de Maio, ganhas por larga maioria pelos conservadores de David Cameron — a população, notam, expressou a sua vontade de se pronunciar sobre a UE.

Durante toda a campanha o Labour opôs-se ao referendo - em Agosto, o partido escolhe um novo líder, depois da demissão de Ed Miliband na sequência da derrota eleitoral. Porém, explicam os autores do artigo, durante a campanha os candidatos do partido que falaram com os eleitores ficaram com a percepção clara de que os britânicos querem ter uma palavra a dizer sobre serem ou não membros da UE.

Um dos candidatos à liderança, Andy Burnham, já tinha aberto a porta à possível mudança de posição do partido, sendo agora sublinhado que os trabalhistas aceitam o referendo mas estão comprometidos com a campanha pela rejeição à saída da UE.

"O Partido Trabalhista não quer que o Reino Unido saia inadvertidamente da União Europeia. Vamos defender a permanência", escreveram Harman e Benn. "A ideia de que o futuro, a prosperidade e a segurança estão na saída deste mercado, quando o mundo está cada vez mais interdependente, não faz sentido", defendem os trabalhistas. "Numa era de poderosos blocos comerciais, e com as economias da Ásia e de África em crescimento, temos mais poder sendo membros da União Europeia e não teremos as mesmas hipóteses [de sucesso] se agirmos sozinhos. É este o argumento com que partimos para o referendo, quando os britânicos tomarem a sua decisão".

A realização do referendo deverá ser formalizado na quarta-feira no Parlamento do Westminster, quando a rainha Isabel II proferir o discurso de abertura da legislatura que é o resumo do novo programa de Governo de Cameron. O anúncio do Labour surge também na sequência da divulgação da informação de que o Banco de Inglaterra já prepara, há algum tempo, um estudo sobre os riscos de uma saída de UE.

Antes do referendo, Cameron quer renegociar os termos da parceria de Londres com Bruxelas, conseguindo maior autonomia em vários sectores, entre eles a questão da imigração. Por exemplo, quer cortar o acesso aos benefícios sociais aos cidadãos da UE que chegam ao Reino Unido. "Propus uma série de medidas — disse o primeiro-ministro britânico na semana passada durante a cimeira europeia em Riga —, de mudanças, que correspondem às maiores preocupações dos britânicos na sua relação com a UE e estou confiante de que conseguiremos essas mudanças". David Cameron recusou dizer, a pedido dos jornalistas, se abandonará o referendo caso as suas exigências sejam aceites pelos outros Estados-membros.

Os trabalhistas, que na campanha sublinharam os riscos económicos de uma saída da UE, introduziram agora no seu discurso o tema da imigração. "Tal como muita gente e como muitos empresários, queremos reformar a Europa — no sector dos benefícios [sociais para os cidadãos], no controlo da livre circulação de cidadãos e na forma como a UE funciona", escreveram Harman e Benn.
 

   





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