Greve no Libé devido a plano de transformar o jornal num centro cultural

Trabalhadores respondem aos accionistas: "Somos um jornal. Não somos um restaurante, uma rede social, um espaço cultural...."

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A primeira página do Libération deste sábado DR

Os trabalhadores do jornal francês Libération reagiram com “indignação” à proposta do accionista que quer transformar o órgão de comunicação social num centro cultural e numa marca. “Somos um jornal. Não somos um restaurante, uma rede social, um espaço cultural, uma televisão, um bar, uma incubadora de start up”, lê-se na primeira página deste sábado.

No interior do jornal, cinco páginas dão conta da proposta dos novos accionistas e da resposta da equipa de 290 trabalhadores ao projecto de remodelar a sede do jornal em Paris — os novos donos querem que o designer Philippe Starck redesenhe o espaço de 4500 metros quadrados — para que albergue todas as coisas que os jornalistas dizem que o Libé não é.

O Libération, que comemora este ano 40 anos de existência — foi fundado por Jean-Paul Sartre e Serge July in 1973 —, atravessou ao longo da sua história várias crises. Esta mais recente adivinhava-se desde o ano passado, quando o jornal começou, de novo, a perder fôlego e a dar prejuízos avultados. Baixou para 93 mil os exemplares vendidos (o valor mais baixo em 15 anos).

O novo grupo de empresários detentor do título, composto por Bruno Ledoux, Edouard de Rothschild e a empresa Ersel, divulgaram na sexta-feira um plano de reforma — o que se adivinhava já tinha provocado uma greve de 24 horas por parte dos trabalhadores na quinta-feira (está outra marcada para domingo). O texto considera que a “mudança da casa” é “inelutável”. E diz que com a transformação física da sede — onde surgirá um espaço cultural, uma área de conferências com estúdios de televisão, uma rádio, uma redacção digital, um restaurante, um bar e uma incubadora de start up, o Libération terá “fortes perspectivas de crescimento”. Um local que será — disseram os accionistas — “totalmente dedicado ao universo Libération”, aberto e acessível a toda a gente, jornalistas, escritores, filósofos, políticos, designers. Em resumo, “um fórum do século XXI com a marca punjante do Libération”.

Primeiro, explica o jornal na edição deste sábado, os jornalisats e os outros trabalhadores ficaram “perplexos”. Depois ficaram “irados” com este atentado à sua "honra" e à do jornal. O “projecto dos accionista (...) provocou a estupefacção e depois a cólera da equipa”. Não oferece qualquer perspectiva séria sobre o futuro do jornal que têm nas mãos. Se for aplicado, o Libération torna-se numa simples marca. As próximas semanas vão ser difíceis, mas estamos unidos e determinados”, dizem os trabalhadores.

"Queremos um verdadeiro plano de desenvolvimento, desejamos uma sólida reestruturação da empresa e um sério projeto editorial que responda ao que pretendem os leitores e que garanta o futuro do jornal", dizem os trabalhadores.
 

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