Torturadores do pai da Presidente chilena condenados a penas de prisão

"Fiquei na solitária 26 dias. Fui torturado durante 30 horas. Quebraram-me por dentro", diz uma das cartas que Alberto Bachelet enviou à família.

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A notícia das condenações foi manchete nos jornais chilenos Reuters

Dois antigos coronéis chilenos, no activo durante a ditadura de Augusto Pinochet, foram condenados a penas de prisão por terem torturado Alberto Bachelet, pai da actual Presidente. Os crimes que levaram à condenação ocorreram em 1973 - Bachelet morreria no ano seguinte, de paragem cardíaca, na sequência de mais uma sessão de tortura.

Os coronéis reformados – Ramón Cáceres Jorquera e Edgar Ceballos Jones – foram condenados a três e dois anos de prisão, respectivamente. No julgamento, que terminou na sexta-feira em Santiago, o juiz Mário Carroza disse que os dois militares reformados "repetidamente cometeram o crime de tortura".

O porta-voz do Governo chileno, Álvaro Elizalde, disse que este julgamento foi "mais um passo" rumo à verdade e à justiça em relação aos crimes de Pinochet, que governou o país através de uma ditadura depois do golpe de Estado que depôs Salvador Allende, em 1973. Alberto Bachelet - pai da actual chefe de Estado, Michelle Bachelet - contestou o golpe, mantendo-se fiel a Allende, e foi preso.

Mais de 40 mil pessoas foram mortas durante aos 17 anos da ditadura e três mil  desapareceram. Os dois coronéis agora julgados foram formalmente acusados em 2012, depois da conclusão de um relatório forense que permitiu apurar a causa da morte de Alberto Bachelet na prisão.

Um outro homem que sobreviveu às torturas dos dois coronéis, Sergio Santos, disse que as penas de dois e três anos são demasiado brandas. "Parece-me um pouco ridículo que, depois de tantos anos de repressão e tortura contra centenas de pessoas, eles só apanhem três anos de prisão", disse à Associated Press.

No julgamento, foram lidas as cartas que o pai da actual Presidente escreveu à família nos seis meses que esteve preso na Academia Militar, lugar onde morreu. Os dois homens que o torturaram eram seus subordinados antes do golpe contra Allende. "Fiquei na solitária 26 dias. Fui torturado durante 30 horas. Quebraram-me por dentro", diz uma das cartas.

Alberto Bachelet, acusado e condenado por traição, morreu no dia 12 de Março de 1974, aos 50 anos, depois de uma noite de interrogatórios. A sua mulher, Angela Jeria, e filha, Michelle, também foram presas e torturadas antes de fugirem para a Austrália e para a Alemanha Oriental.

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