Tony está paralisado e quer morrer, mas os juízes disseram-lhe que não

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Tony Nicklinson ficou tetraplégico na sequência de um AVC DR

Tony Nicklinson só consegue comunicar com o piscar dos olhos. Pediu ao Supremo Tribunal de Londres que o possam ajudar a morrer sem ninguém ser responsabilizado, mas os juízes disseram-lhe que não.

A história de Nicklinson, de 57 anos, tem emocionado o Reino Unido. Desde que sofreu um AVC em Atenas, há já sete anos, que ficou paralisado a partir do pescoço, quase sem conseguir comunicar, a não ser com piscadelas de olhos e perante um software com um abecedário que o deixa escrever mensagens no Twitter. Não fala, não come sozinho, não voltará a levantar-se. E quer morrer, mas não quer que ninguém seja acusado por homicídio, por isso apresentou o seu caso ao Supremo Tribunal britânico e acaba de perder a sua primeira batalha legal.

Os juízes decidiram nesta quinta-feira não tomar uma decisão que iria contra a legislação britânica. “Não cabe ao tribunal decidir se a lei sobre a morte assistida deve ser mudada”, defendeu o juiz Roger Toulson, citado pela BBC. “De acordo com o nosso sistema, isso é uma questão para o Parlamento decidir”, adiantou.

Tony Nicklinson ficou “devastado” com a decisão, já tem definido a sua vida como “aborrecida, miserável, exigente, indigna e intolerável”. E agora deverá apresentar recurso. “Estou triste com o facto de a lei me condenar a uma vida de cada vez maior indignidade e miséria.”

O seu caso foi apresentado juntamente com o de outra pessoa, identificada apenas como Martin, de 47 anos, que está numa situação idêntica. Também quer ajuda médica para pôr fim à vida e também perdeu o caso que tinha apresentado ao tribunal.

Pai de duas filhas, Nicklinson ficou paralisado durante uma viagem de negócios a Atenas. Sofre de uma condição designada, em inglês, por locked-in syndrome e que, na prática, significa que um doente fica encerrado no seu próprio corpo. O seu cérebro funciona perfeitamente mas o seu corpo está paralisado do pescoço para baixo e é incapaz de falar. Não consegue fazer sozinho o que qualquer adulto saudável faz: comer, andar, vestir-se. A sua vontade de morrer é consciente, mas o Reino Unido não permite o suicídio assistido neste caso.

Foi por isso que Tony resolveu ir ao Supremo Tribunal de Londres. Porque, de acordo com a legislação britânica, se alguém ajudasse Tony a morrer essa pessoa seria muito provavelmente acusada de homicídio. E Tony quer morrer sem culpas. Mas não pode suicidar-se sozinho, nem que alguma substância letal seja preparada por outra pessoa.

A decisão do tribunal foi contestada por quem o tem apoiado, mas foi considerada “certa” pela Associação Médica Britânica. Tony Calland, responsável pelo comité de ética da organização, referiu que esta “não considera ser no melhor interesse da sociedade que os médicos possam legalmente pôr fim à vida de um paciente”, adiantou a BBC.

O seu caso foi apresentado ao tribunal a 19 de Junho, quando Tony pediu que os três juízes que analisaram a sua situação – Toulson, Royce e Macur – decidissem que o médico que o ajudaria a pôr fim à vida ficaria livre de qualquer acusação.

A família de Tony – a mulher Jane e as duas filhas, Lauren, de 24 e Beth, de 23 anos – adiantou nessa altura que, embora apoie a decisão, não seria directamente responsável pelo suicídio assistido.

Numa carta enviada ao advogado e lida em tribunal na altura da apresentação do processo, Tony afirmou: “Não vos posso dizer a paz de espírito que teria só por saber que eu posso decidir sobre a minha vida, em vez de ser o Estado a dizer-me o que eu devo fazer – nomeadamente continuar vivo, independentemente da minha vontade”.

“Não posso coçar-me se tiver comichões, não posso assoar-me e só posso comer se for alimentado como um bebé – só que nunca irei passar a comer sozinho, ao contrário do bebé”.

Paul Bowen, o advogado de Tony, afirmou que o seu cliente não quer introduzir uma nova lei que legalize a eutanásia e o suicídio assistido. A única coisa que ele quer é manifestar sua vontade de ter uma morte digna com a ajuda de terceiros já que, sozinho, não o poderá fazer.

Antes de sofrer o AVC, Tony era um homem “muito activo e sociável”, descreve a família. Trabalhava como gerente para uma empresa de engenharia grega, era o presidente de um clube de golfe e gostava de assistir a jogos de râguebi com os seus amigos.

Agora que se encontra totalmente paralisado, Tony diz que teria agido de forma diferente quando sofreu o AVC. “Estou grato aos médicos que salvaram a minha vida em Atenas? Não, não estou. E se voltasse a acontecer, e se soubesse o que sei agora, em vez de chamar a ambulância tinha deixado a natureza fazer o seu caminho.”

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