Tiroteio entre polícia e comitiva de Dhlakama faz 20 mortos em Moçambique

É o segundo incidente com comitivas de Dhlakama em duas semanas.

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O líder oposicionista está algures na província de Manica Gianluigi Guercia/AFP

Pela segunda vez em quinze dias, a comitiva de segurança do líder da oposição em Moçambique, Afonso Dhlakama, voltou a estar envolvida num tiroteio que, na sexta-feira, matou 20 pessoas, segundo um balanço actualizado este domingo. A polícia disse que foram os seguranças de Dhlakama a abrir fogo, mas a Renamo afirmou estar a responder a um ataque ao seu líder.

Segundo a versão da polícia, o líder da Resistência Nacional Moçambicana (Renamo, antiga guerrilha) viajava perto de Imchope, no centro do país, quando, por volta do meio-dia de sexta-feira, homens armados na sua comitiva abriram fogo sobre uma carrinha de táxi. A Renamo respondeu às acusações policiais deste sábado ao dizer que foi vítima de uma “emboscada”.

“De acordo com as nossas informações, parece que o pequeno autocarro se aproximou demasiado rápido da comitiva, que acreditou tratar-se de um ataque e abriu fogo”, disse à AFP o comandante da polícia, Armando Mude, que deu conta da morte de 19 membros da Renamo, do condutor e de  ferimentos em três passageiros.

Quando a polícia chegou ao local, iniciou-se um tiroteio e “registaram-se nove mortos de entre as fileiras da Renamo”, acrescentou, precisando ainda que cada veículo da comitiva partidária transportava não menos do que oito homens armados.O balanço da Renamo é de sete mortos entre a comitiva de Dhlakama e dezenas entre os alegados atacantes. 

“O presidente [da Renamo] foi vítima de uma emboscada pela segunda vez em duas semanas”, disse à AFP o porta-voz do partido, António Muchanga.

Em declarações à Lusa, no local do incidente, Dhlakama acusou a Frelimo, à qual apelou “para parar, porque isso é uma brincadeira de mau gosto”. Disse também que não se vai vingar, mas afirmou que “no dia que a Renamo declarar ou pretender declarar a guerra mesmo no país, ninguém nos irá condenar”.

A polícia disse inicialmente que o líder da oposição e outros elementos do grupo fugiram para o floresta e que tinha em curso um operação. Afirma agora que está em parte incerta. Segundo António Muchanga, Dhlakama está algures na província de Manica.

No dia 12 de Setembro, Dhlakama escapou a disparos que atingiram a sua comitiva. Denunciou depois um ataque de células da Frelimo (a Frente de Libertação de Moçambique), o partido no poder, e ameaçou com represálias. Renamo e Frelimo são velhos rivais da longa guerra civil de 16 anos que terminou em 1992 com um acordo de paz entre os dois.

A bancada parlamentar da Renamo disse que ambos os casos mostram "claramente o intuito de assassinar" Dhlakama. O porta-voz da Frelimo, Damião José, afirmou que o líder da oposição precisa compreender que "está a agir como um homem fora da lei, que apenas pensa em criar terror nos moçambicanos, o que leva a dizer que continua a assumir a postura de um autêntico terrorista".

Em Nova Iorque, onde se deslocou para a Assembleia Geral das Nações Unidas, o Presidente da República, Filipe Nyusi, aludiu ao tiroteio, dizendo que "politicamente o país está estável, apesar de focos de ameaças e isso é que desestabiliza e violenta um pouco o desenvolvimento económico".

O acordo de paz esteve em risco entre 2013 e 2014. A base da Renamo, que ainda não desmobilizou os seus combatentes, foi atacada por forças governamentais em Outubro de 2013, no centro do país, dando origem nos meses seguintes a ataques de parte-a-parte que deixaram o país num estado de guerra não declarada.

Os dois partidos negociaram o fim das hostilidades em Outubro de 2014, o que permitiu as eleições gerais de Outubro, que deram a maioria parlamentar à Frelimo e a presidência a Filipe Nyusi. Afonso Dhlakama saiu então da clandestinidade para apoiar a realização das eleições. A Renamo recebeu um terço dos votos, mas o partido não reconhece o resultado do sufrágio.

Apesar da trégua acordada em Outubro de 2014, o centro do país continua a ser palco de incidentes pontuais entre a Renamo e forças governamentais. 

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