Ofensivas militares não travam subida do terrorismo

Em 2013 morreram perto de 18 mil pessoas em cerca de dez mil ataques, mais 60% de vítimas do que no ano anterior.

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O Iraque registou o maior número de vítimas do terrorismo, mais de seis mil só em 2013 Ahmed Saad/Reuters

Nem os drones, nem as ofensivas militares ou o endurecimento das leis travam o aumento do terrorismo à escala global. Um relatório divulgado nesta terça-feira revela que em 2013 os ataques e acções terroristas mataram quase 18 mil pessoas em todo o mundo, um aumento de 61% face ao número anterior.

“Não quero fazer previsões para 2014, mas é difícil imaginar que as coisas vão estar melhores”, disse à BBC Steve Killelea, director do Instituto para a Economia e a Paz, um think-tank australiano que acompanha a evolução do terrorismo na última década e meia. Neste seu segundo Índice do Terrorismo Global (a primeira edição foi publicada em 2012), o instituto analisa os dados de 2013 e conclui que o número de vítimas do terror mais do que quintuplicou em relação a 2000, pondo em causa a estratégia de contraterrorismo adoptada pelos países ocidentais após os atentados do 11 de Setembro. Durante os 12 meses do ano registaram-se cerca de dez mil ataques, mais 44% do que no ano anterior.

Mais de 80% das 17.958 pessoas que morreram em atentados no ano passado viviam em cinco países – Iraque, Síria, Afeganistão, Paquistão e Nigéria – dois dos quais foram palco de intervenções militares norte-americanas lançadas ao abrigo da “guerra contra o terrorismo” declarada pelo ex-Presidente George W. Bush em 2001. Outros dois sofreram consequências directas dessas operações. O Iraque, onde os atentados ceifaram a vida de 6362 pessoas durante o ano passado, foi o mais atingido pelo terrorismo.

O índice, que usa como ponto de partida os números da Base de Dados do Terrorismo Global elaborada pelos EUA, atribui a maioria das mortes ocorridas em 2013 a quatro organizações – a rede terrorista Al-Qaeda, os taliban no Afeganistão e Paquistão, o autoproclamado Estado Islâmico e o grupo extremista nigeriano Boko Haram. E se a organização fundada por Osama bin Laden perdeu influência nos últimos anos, outros grupos têm vindo a ocupar o espaço deixado livre, nota o relatório, citando o caso do Estado Islâmico que, apesar de ter origem no Iraque, aproveitou o caos gerado pela guerra na Síria para recrutar e se armar, conquistando uma grande fatia de território no Leste e Norte do país.

O relatório não inclui as consequências da ofensiva lançada pelos extremistas no Iraque, que depois de em Janeiro terem entrado na província de Anbar lançaram em Junho uma ofensiva que os levou a conquistar Mossul, a segunda maior cidade do Iraque, e um vasta faixa de território no Norte do país. Mas refere já que “é a desestabilização da Síria, que se espalhou entretanto ao Iraque, que está a alimentar esta escalada do terrorismo”.

As quatro organizações citadas partilham “ideologias religiosas baseadas em interpretações extremas do islão wahhabita”, sublinha o relatório, sustentando que para as combater “é necessária uma resposta militar, mas esta por si só não é suficiente”. Citando o caso dos sunitas no Iraque, Killelea diz que há aspirações legítimas de quem apoia ou transige com os terroristas que exigem uma resposta política. Afirma ainda que um combate eficaz passa também por “contrariar o crescimento do extremismo religioso”, desafiando os países de maioria muçulmana a “fomentarem teologias sunitas moderadas”.

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