Terra treme na Itália destruída por sismos e a sofrer o pior nevão em 50 anos

Quatro abalos acima de 5,2 na escala de Richter derrubaram edifícios que tinham sobrevivido ao tremores de terra de Agosto e de Outubro em Amatrice. Há um morto, medo medo, frio, neve e desespero.

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Emiliano Grillotti/Reuters

“Não sei se fizemos algo de errado, mas coloco-me a questão desde ontem. Com neve de 1,5 a 2 metros e agora o tremor de terra. O que é que se pode dizer. Já não tenho palavras.” A reacção do presidente da câmara de Amatrice, Sergio Pirozzi, resume bem o que sentiram muitos habitantes do Centro de Itália, zona fustigada pelo terramoto que em Agosto matou 300 pessoas e destruiu metade das casas deste município a 140 quilómetros de Roma.

A terra voltou, portanto, a tremer. Três vezes entre as 9h25 e as 10h25 (menos uma hora em Portugal continental), uma quarta à hora de almoço, abalos de 5,2 a 5,7 na escala de Richter e a uma profundidade de nove a dez quilómetros (Centro Sismológico Europeu-Mediterrâneo). Os primeiros sentiram-se de forma tão intensa em Roma que o metropolitano encerrou por duas horas para verificação de estruturas, os museus foram encerrados e centenas de escolas mandaram os alunos para casa. Entre a capital e os epicentros também houve linhas de comboio fechadas.

Para além de um morto, um homem de 83 anos que ficou dentro de um prédio que desabou em Castel Castagna (Teramo), em Abruzzo, e de um desaparecido em Campotosto, Áquila, não há mais feridos que se saiba – o nevão que afecta toda a zona atingida pelos sismos fechou estradas e deixou áreas sem electricidade ou rede de telemóveis. Sete horas depois dos tremores ainda havia gente presa pela neve na estrada e os bombeiros e os soldados chamados a ajudar tentavam alcançar localidades isoladas pela intempérie.

Estragos há, a maioria em estruturas já atingidas pelo sismo de 24 Agosto (ou pelos de 26 de Outubro, de 5,5 e 6,1, que também não deixaram vítimas, assim como o de 6,5, a 30 de Outubro). O tecto da câmara municipal de Campotosto cedeu, mas o edifício estava encerrado por causa dos nevões e aguardava obras para se preparar para futuros abalos; a torre do século XV do sino da igreja de Santo Agostinho, em Amatrice, resistiu aos terramotos anteriores mas desta vez desabou mesmo.

“Certamente que esta repetição de sismos fortes é alarmante para as pessoas que já foram tão profundamente testadas”, afirmou em Berlim o primeiro-ministro, Paolo Gentiloni, o homem que assumiu a chefia do Governo de forma provisória com a demissão de Matteo Renzi, em Dezembro.  O Presidente da República, Sergio Matarrella, prometeu uma reforçada capacidade de resposta dos responsáveis. “A cada abalo as condições agravam-se, mas aumenta também a nossa vontade de ajudar e de estar perto das pessoas”, disse, citado pela televisão pública Rai. 

A juntar às pessoas em pânico que enfrentaram os abalos dentro dos seus carros, em estradas bloqueadas pela neve, a protecção civil alertou para o perigo de avalanches nas áreas mais próximas à região montanhosa de Marche, entre os montes Apeninos e o mar Adriático, 260 quilómetros a nordeste da capital.

A ministra da Defesa italiana, Roberta Pinotti, garantiu estarem à “disposição total veículos do exército” para ajudar na situação, sobretudo em locais onde a neve está a dificultar os acessos. A partir da sala de operações das Forças Armadas, Pinotti garantiu que havia mais de 60 viaturas militares envolvidas e que poderiam ser disponibilizadas mais.

Estes abalos acontecem na região central do país, a mesma das localidades de Amatrice e a mesma de Áquila, destruída em Abril de 2009 por um sismo de 5,8 a 5,9 que matou 308 pessoas.

Desde Agosto que a terra tem tremido a cada 4,5 minutos nesta zona e nunca se viu uma série de tremores tão fortes em tão pouco tempo. “Trata-se de um fenómeno novo na história recente”, diz o sismólogo Alessandro Amata, ao jornal Corriere dela Sera.

O presidente da câmara de Amatrice, Sergio Pirozzi, procura encontrar as tais palavras que lhe faltam. “Tentamos reerguer-nos, tantos sacrifícios, depois o abalo de 30 de Outubro, a seguir neve como não vimos em 50 anos, as temperaturas mais baixas em 25 anos, tudo de um golpe.”

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