Stephen tinha 46 objectivos e um cancro. Apenas um ficou por cumprir

Stephen Sutton morreu na quarta-feira, após quatro anos a lutar contra um cancro que se revelou incurável.

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Stephen viveu com cancro durante quatro anos DR

Aos 19 anos, Stephen Sutton é um dos jovens mais conhecidos no Reino Unido. Não por ser uma pop star, nem um futebolista e muito menos por ser um rapaz rebelde que fez manchetes nos tablóides. Criou uma lista com 46 objectivos a atingir, um deles viver o maior tempo possível e um outro angariar donativos para as suas campanhas de caridade. A sua popularidade cresceu a cumprir metas e conseguiu reunir mais de 3,2 milhões de libras (3,9 milhões de euros). Morreu na madrugada de quarta-feira, a dormir, após ter sido internado com novas complicações devido a um cancro colo-rectal incurável.

No dia 22 de Abril, Stephen, um rapaz de Burntwood, Staffordshire, escrevia, a partir da cama do hospital, aquela que pensava ser uma das suas últimas mensagens no Facebook. “É uma pena que o fim tenha chegado tão subitamente ainda há tantas pessoas a quem ainda não agradeci apropriadamente ou me despedi. Peço desculpa por isso”, escreveu o jovem, lamentando que deixava muito por fazer nas suas campanhas. “Continuarei a lutar enquanto puder, e o que quer que seja que venha a acontecer, quero que saibam que estou num bom sítio mentalmente e confortável com a situação”, continuou. Depois, a despedida: “É tudo da minha parte. Mas a vida tem sido boa. Muito boa”.

Depois deste post, Stephen escreveu ainda mais alguns, na sua maioria de surpresa por continuar vivo, mesmo depois de um novo internamento no último domingo devido a complicações respiratórias. Na quarta-feira, a sua página no Facebook foi actualizada mais uma vez, mas agora pela mãe. “O meu coração transborda de orgulho mas está partido devido à dor pelo meu corajoso, altruísta, inspirador filho que morreu calmamente a dormir às primeiras horas desta manhã.”

Para trás ficaram meses de trabalho e iniciativas descritas pelo próprio jovem na página que criou, Stephen’s Story, em Janeiro de 2013. Inicialmente, a página era actualizada cada vez que concretizava uma das 46 coisas que queria fazer antes de morrer. A Stephen’s Story foi ganhando seguidores, até mais de um milhão, e o Facebook passou a centrar-se na ajuda aos outros, através de angariação de donativos, mensagens de motivação ou de humor. Stephen abriu ainda contas no Twitter, Tumblr, Instagram e YouTube e as suas acções multiplicaram o número de seguidores e de donativos.

O primeiro pedido de donativo de Stephen surgiu pouco depois de saber, em 2012, que o seu cancro se tinha espalhado pelo corpo e que era terminal. Angariou dez mil libras para o Teenage Cancer Trust. Durante 2013, o jovem conseguiu angariar mais de 560 mil libras (686 mil euros), que chegaram até Maio deste ano a 3,2 milhões de libras, destinados a ajudar a luta contra o cancro.

Ao longo dos últimos meses ganhou vários prémios pelo seu voluntariado e foi fotografado ao lado de algumas das principais individualidades britânicas, entre celebridades e políticos, incluindo o primeiro-ministro, David Cameron, que o visitou no hospital num dos seus internamentos desde o início de Maio.

Cameron deixou uma das primeiras reacções à morte de Stephen. “Estava determinado a não desperdiçar um minuto, a não desperdiçar uma hora ou um dia”, disse o chefe de governo. “Era absolutamente inspirador, fez coisas extraordinárias por caridade e conhecê-lo foi um enorme privilégio.”

O comediante Ricky Gervais recordou Stephen como um “herói e uma inspiração para todos”. Ed Miliband, líder do Partido Trabalhista, destacou a “coragem e determinação em viver a vida” do jovem.

Numa recente entrevista ao jornal Daily Mail, Stephen admitiu que estar próximo da morte era “assustador mas ao mesmo tempo incrivelmente revigorante”. “Estar tão próximo da morte apenas reforçou todos os sentimentos para fazer o máximo com o que temos.” Após saber que a sua doença era incurável, o jovem disse que deixou de “medir a vida em termos de tempo” e começou a “medi-la em termos do que podia de facto fazer”. 

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