Com Marina Silva como candidata da coligação liderada pelo Partido Socialista Brasileiro (PSB), é certa uma segunda volta, segundo uma sondagem do instituto Datafolha, divulgada no dia a seguir ao funeral de Eduardo Campos, que morreu num acidente aéreo, e ao qual compareceram mais de 100 mil pessoas e todos os políticos que participam nas eleições presidenciais. Marina surge até com vantagem numa segunda volta com Dilma Rousseff, ainda que dentro do limite do empate técnico.

A dianteira nas sondagens para as eleições de Outubro é da actual Presidente, Dilma Rousseff (Partido dos Trabalhadores) com 38% das intenções de voto. Seguem-se Marina Silva (21%) e Aécio Neves (20%), do PSDB (Partido da Social Democracia Brasileira), virtualmente empatados.

Marina Silva deverá ser confirmada candidata, passando do lugar de vice de Eduardo Campos, que morreu na semana passada num acidente de avião, para o lugar de candidata, numa reunião do partido nesta quarta-feira.

O principal efeito com a entrada de Marina como protagonista da eleição é, segundo a análise feita pelo instituto de sondagens Datafolha, a queda do número de indecisos. As intenções de voto nulo ou branco desceram para 8% (na última sondagem eram de 13%) e os indecisos passam de 14% para apenas 9%.

Numa segunda volta entre Dilma Rousseff e Marina Silva, quem surge à frente é Marina, mas ainda em empate técnico, mesmo no limite da margem de erro – 47% da candidata do desenvolvimento sustentável e dos evangélicos brasileiros contra 43% da do PT. Numa segunda volta Dilma-Aécio, a Presidente vence com 47% contra 39%.

A primeira sondagem realizada após a morte de funeral de Eduardo Campos, ex-governador de Pernambunco, mostra como Marina Silva recebeu boa parte dos votos. Mas analistas ouvidos pelo diário Globo dizem que esta dinâmica poderá mudar à medida que a comoção pela tragédia se vá dissipando.

Por outro lado, o acidente trouxe visibilidade à campanha – o principal ponto fraco de Eduardo Campos era não ser muito conhecido a nível nacional. “A comoção gera conhecimento, e esse conhecimento se transforma em referencial”, comentou o senador Walter Pinheiro, do PT, no velório de Campos.
 

Nas presidenciais de 2010, Marina Silva obteve quase 20%. Este resultado fez com que houvesse uma segunda volta entre Dilma Rousseff e José Serra. Este ano, não é de estranhar que possa romper de facto a lógica de polarização entre o PT e o PSDB que domina há anos a política brasileira. Além disso, nota o jornal “O Estado de São Paulo”, depois da tragédia de Eduardo Campos, será difícil aos dois outros partidos atacar ferozmente Marina.

“Campos não tinha mais como subir”, disse ao jornal O Globo Alberto Goldman, vice-presidente do PSDB. “Marina representa bem mais do que Eduardo Campos o desânimo com a política”, afirmou, e tem além disso por base os 20% que votaram nela nas últimas presidenciais. Para Goldman, o principal inimigo continuará a ser o PT: “O nosso inimigo chama-se Dilma, Lula e PT”.

Do lado da campanha de Dilma Rousseff, o principal adversário continua a ser Aécio Neves, do PSDB. Marina Silva “será tratada com respeito”, garantiu ao Globo o secretário de comunicação do Partido dos Trabalhadores, José Américo. “Se ela chegar à segunda volta, vamos destacar as nossas diferenças, mas não será uma polarização”, garantiu.

Uma forma de obter lucros políticos com a emoção provocada pela morte de Eduardo Campos poderia ser chamar para o “ticket” presidencial Renata Campos, a viúva do candidato – no funeral ouviram-se apelos nesse sentido. Mas essa é a hipótese menos provável, dizia o jornal O Globo. A opinião de Dona Renata será, no entanto, determinante na escolha do companheiro ou companheira de lista de Marina Silva.