Socialistas defendem modelo federal para travar secessão da Catalunha

Líderes do PP não querem novo sistema de financiamento nesta legislatura. Artur Mas fala hoje no parlamento catalão, onde irá a votos uma resolução sobre o direito dos catalães a decidirem o seu futuro

Entre os partidos nacionalistas da Catalunha, que esta semana se preparam para dar alguns passos no caminho secessionista da região, e o PP, que nada quer negociar porque nada quer mudar, o Partido Socialista defendeu ontem "o modelo federal" como alternativa que "garante a igualdade e preserva a diversidade".

Foi o líder do PSOE, Alfredo Pérez Rubalcaba, a situar o partido no debate político que ocupa Espanha desde a manifestação de 11 de Setembro, dia nacional catalão, quando 1,5 milhões de pessoas marcharam em Barcelona sob o slogan "Catalunha, o próximo Estado da Europa", na maior manifestação de sempre em apoio à independência. O Partido Socialista Catalão (PSC), disse Rubalcaba, "quer que a Catalunha continue com Espanha, mas que seja uma Catalunha forte". Para isso, sustenta, a solução passa por avançar para "o modelo federal", "uma melhoria face ao estatuto autonómico".

"Estamos dispostos a negociar um modelo que avance no Estado autonómico em direcção ao federal e logo veremos se isso encaixa na Constituição.

Se não encaixar, pois haverá que mudar a Constituição, que não é imutável. O que deveria ser imutável é o consenso constitucional", disse o secretário-geral do PSOE.

As palavras de Rubalcaba, numa entrevista à rádio Cadena Ser, surgem no arranque de uma semanachave para o futuro próximo da Catalunha.

À manifestação de dia 11, quando o presidente da Generalitat (governo regional), Artur Mas, defendeu que a região precisa de "um Estado próprio", seguiu-se o seu encontro com o primeiro-ministro, Mariano Rajoy, onde o Governo do Partido Popular confirmou a recusa em negociar o pacto fiscal catalão.

Artur Mas e a sua Convergência e União (CiU) tinham centrado o mandato na conquista deste pacto, que daria à Catalunha o direito a cobrar e reter os seus impostos; hoje à tarde, no arranque do debate de política geral no parlamento da região, o líder catalão deverá explicar que caminho defende, agora que considera o seu mandato esgotado.

Espera-se o anúncio de eleições antecipadas. Mas já esta semana a assembleia deverá aprovar uma resolução sobre o direito a decidir. O texto não é conhecido, mas, segundo o jornal catalão La Vanguardia, começou a ser redigido dois dias depois da manifestação e nas negociações participam todos os partidos que apoiaram a marcha: 86 deputados num parlamento de 135, incluindo os eleitos da CiU, da coligação Iniciativa, da Esquerda Republicana e os independentistas do Solidaritat. De fora ficaram o PP e o PSC.

Cabe à CiU limar sensibilidades e negociar um texto comum, a apresentar na quinta-feira. A coligação Iniciativa (ecologistas, comunistas) quer convocar um referendo sobre a independência, mas o Solidaritat, por exemplo, defende que o Parlamento catalão deveria declarar a independência de forma unilateral.

Ouvidos pelo El País, dirigentes dos socialistas catalães dizem que não apoiarão as "aventuras indefinidas e irresponsáveis de [Artur] Mas", mas recusam unir-se ao "imobilismo do PP". É a "terceira via" que Rubalcaba veio entretanto propor.

Já os populares não querem negociar.

"Artur Mas enganou-se e não há nada a falar com um partido que quer romper com Espanha", afirmou a presidente do PP catalão, Alicia Sánchez-Camacho.

A única porta deixada aberta por Rajoy no seu encontro com Artur Mas, a da negociação de um novo modelo de financiamento regional durante esta legislatura, também já não parece certa. "Não é o melhor momento", disse ontem a secretáriageral do PP e presidente da região de Castela-Mancha. Segundo Dolores de Cospedal, essa é a posição dos presidentes das regiões autonómicas lideradas pelo PP, 13 em 17.

Publicada no dia 25 de Setembro de 2012 
 
 
 
 

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