Mediterrâneo: sobreviventes falam de “40 mortos” num naufrágio do fim-de-semana

Os resgatados dos últimos dias ainda não acabaram de chegar a terra. Alguns contam que viram morrer “muitos” dos que viajavam consigo.

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Os resgatados chegam a diferentes portos do Sul da Itália Mario Laporta/AFP

À medida que os imigrantes resgatados ao longo do fim-de-semana no Mediterrâneo começam a chegar aos portos italianos – mais de 6500 –, surgem relatos que apontam para um número de mortos superior ao registado pela guarda costeira italiana. De acordo com sobreviventes transportados esta terça-feira para Catânia, na Sicília, umas 40 pessoas que viajavam no mesmo pneumático morreram.

“Eles disseram que estavam 137 na embarcação que se esvaziou ou explodiu – não é claro – e que uma parte deles caiu ao mar”, disse à AFP Giovanna di Benedetto, membro da organização não-governamental Save the Childen, que acolheu os resgatados na Catânia, onde estes chegaram a bordo do navio de carga Zeran, que transportava igualmente cinco cadáveres.

“Alguns falam de mortes ‘muito numerosas’, outros dizem ‘uns 40’”, descreve Giovanna di Benedetto.

Segundo os dados da Marinha da Itália e da Frontex, a agência da União Europeia para a vigilância das fronteiras externas, entre sábado e domingo foram resgatadas com vida 6651 pessoas e pelo menos dez morreram: sete foram encontradas mortas nas embarcações em que viajaram e três afogaram-se depois de se terem lançado à água quando o socorro se aproximava.

Os resgatados têm estado a chegar em pequenos grupos a diferentes portos do país, a maioria na Sicília e no Sul da península, antes de serem depois levados para centros de acolhimento em diferentes cidades italianas. Perto de 3000 destes imigrantes chegaram ao longo do dia de segunda-feira. Mil alcançaram esta terça-feira a costa.

As operações deste fim-de-semana, duas semanas depois da morte de quase 900 pessoas na maior tragédia de sempre no Mediterrâneo, permitiram localizar 34 embarcações, de madeira ou borracha, e resgatar quem seguia a bordo, tentando alcançar as costas europeias. Já se sabia que o fluxo de viagens ia acelerar-se, com a acalmia das águas. 

A maior parte das operações esteve a cargo das autoridades italianas, que coordenam a actual missão Tritão, da Frontex, reforçada desde os naufrágios que fizeram 1200 mortos em Abril. Os resgates do fim-de-semana, a maioria em águas perto da Líbia, só foram possíveis com o auxílio de vários navios da marinha mercante. Diferentes países europeus, nomeadamente a França, já começaram a enviar meios, entre embarcações e aviões.

A Tritão também já viu o seu orçamento triplicar, de três para nove milhões de euros mensais (o que Roma gastava com a missão Mare Nostrum, que terminou em Novembro do ano passado e permitiu salvar 170 mil vidas em pouco mais de um ano).

Não chega. Segunda-feira, a Itália pediu à UE que tome "medidas significativas" face ao fluxo ininterrupto de imigrantes no Mediterrâneo. "A cimeira da UE [em Abril, depois do grande naufrágio que vitimou perto de 900 imigrantes] confirmou finalmente a natureza europeia do problema, mas nós precisamos de medidas significativas", defendeu o ministro dos Negócios Estrangeiros, Paolo Gentiloni, ao telefone com o comissário europeu para a Imigração, Dimitris Avramopoulos.

"Não é suficiente acrescentar uma dezena de navios aos italianos" [já presentes no Mediterrâneo]. Isso não resolve o problema", diz Gentiloni, pedindo em simultâneo uma contribuição para "a luta contra os traficantes de seres humanos" e uma nova abordagem ao direito de asilo.

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