Só a Escócia mostrou cartão vermelho aos trabalhistas de Jeremy Corbyn

A votação regional e municipal no Reino Unido manteve o panorama político praticamente na mesma.

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A líder do partido Nacionalista Escocês, Nicola Sturgeon, foi reeleita primeira-ministra REUTERS/Russell Cheyne

A eleição para o parlamento autónomo de Edimburgo confirmou a hegemonia do Partido Nacionalista Escocês (SNP, na sigla em inglês) e a implosão do movimento trabalhista na Escócia, desorientado após anos de instabilidade interna e penalizado pelos eleitores pela sua participação na plataforma conjunta com os conservadores contra a independência do Reino Unido. “Há muito trabalho a fazer para reconstruir a nossa base de apoio, mas não quero deixar de elogiar o partido pela determinação com que se entregou a esta campanha”, reagiu o líder do Labour, Jeremy Corbyn, que apesar da calamidade na Escócia, conseguiu sobreviver ao seu primeiro teste eleitoral.

A sul da fronteira, a noite eleitoral dos trabalhistas não foi tão catastrófica quanto se antecipava, e não comprometeu a liderança de Jeremy Corbyn, o veterano político que surpreendeu ao ser eleito líder do partido e empurrou o Labour significativamente para a esquerda do espectro político. Mas calando os críticos que nunca deixaram de dizer que o radicalismo de Corbyn afundaria o partido nas urnas, o líder foi capaz de manter a votação praticamente ao mesmo nível de 2012, defendendo vários cargos que estavam em dúvida e até alargando a presença do Labour no sul de Inglaterra, terreno tradicionalmente ocupados pelos conservadores.

E a cereja no topo do bolo, Corbyn pôde festejar a eleição de Sadiq Khan como mayor de Londres, após uma campanha brutal que pôs fim ao domínio torie na capital do país. “Os correspondentes políticos acreditavam que esta sexta-feira estariam a relatar as manobras, vindas da ala direita do partido, para correr com Corbyn. Mas, tal como aconteceu em Dezembro, as previsões sobre a morte [política] de Corbyn foram manifestamente exageradas. Ele goza de muito mais apoio no país do que o lobby de Westminster pensa”, observou Joseph Harker, comentador político de The Guardian.

A líder dos trabalhistas escoceses, Kezia Dugdale, não conseguiu esconder o seu desgosto com os resultados eleitorais do partido, que viu os nacionalistas conquistar todos os assentos de Glasgow, outrora o bastião inexpugnável do Labour. Pior ainda, o partido foi ultrapassado pelos seus arqui-inimigos conservadores como a segunda maior força (de oposição) na Escócia. Mais rápidos a reinventar-se após o furacão SNP, os tories fizeram uma campanha totalmente pessoalizada na sua carismática líder, Ruth Davidson, que conseguiu estabelecer-se como a alternativa mais credível a Nicola Sturgeon.

Tirando a derrota em Londres, os conservadores tiveram uma noite tranquila – ainda que, aqui e ali, tenham sofrido com a transferência de votos para os independentistas do UKIP, que alcançou a sua primeira representação na assembleia do País de Gales, com sete lugares. Em Inglaterra, o partido foi a segunda força mais votada em várias circunscrições do Labour, provando mais uma vez a sua capacidade de se afirmar como refúgio para o voto de protesto – um sério aviso para David Cameron e a campanha contra o “Brexit”.

Sturgeon sem maioria

Com 63 dos 129 lugares no parlamento de Edimburgo, o SNP foi um vencedor previsível. Reeleita como primeira-ministra escocesa, Nicola Sturgeon apressou-se a qualificar o resultado dos nacionalistas como “histórico”. A euforia do discurso não iludiu o facto de o partido ter perdido a maioria em Holyrood, e portanto “não dispor do mandato para implementar a totalidade do seu programa”, como admitiu o vice do SNP, Stewart Hosie. Terá o domínio do SNP encontrado o seu limite?, questionavam-se os comentadores.

“Com tantos deputados eleitos, não vamos procurar um entendimento [coligação] com nenhum outro partido”, garantiu Nicola Sturgeon, que assumirá a direcção de um governo minoritário. Outra dúvida que fez questão de esclarecer tem a ver com a perspectiva de um novo referendo para a independência da Escócia, que Sturgeon disse taxativamente não estar nos seus planos. O SNP tem insistido que a eventual repetição do voto pela independência só acontecerá se houver uma “alteração material” do panorama político britânico. A implicação é óbvia, e tem a ver com o desfecho do referendo sobre a relação do Reino Unido com a União Europeia – se o resultado não for a permanência no bloco, o SNP poderá sentir-se tentado a rever a sua posição.

Também no País de Gales haverá um governo minoritário, mas desta feita encabeçado pelo Labour. Na sexta-feira, vários analistas diziam que os resultados do partido tinham impedido uma rebelião interna contra Corbyn, mas apostavam que as conspirações contra o socialista não tinham acabado. Os trabalhistas evitaram o cenário da humilhação que era apontado na véspera – a BBC chegou a estimar uma perda de 120 a 150 mandatos – mas os resultados de quinta-feira não oferecem grande consolo tendo em conta que o grande objectivo do partido é regressar ao poder nas eleições de 2020.

 

 

 

 

 

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