Snowden volta a pedir asilo à Rússia e não desiste de revelar segredos

O objectivo do analista informático é chegar à América Latina. Washington pede a Moscovo que não se torne a "tribuna de propaganda" de Snowden.

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Fotografia da reunião desta sexta-feira entre Edward Snowden e organizações humanitárias TANYA LOKSHINA/HUMAN RIGHTS WATCH
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Jornalistas esperam por declarações à saída da reunião convocada por Edward Snowden VASILY MAXIMOV/AFP
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Bobby Yip/Reuters

Edward Snowden anunciou nesta sexta-feira que vai voltar a pedir asilo à Rússia, com o objectivo de seguir para a América Latina no futuro, no final de uma reunião com representantes de organizações de defesa dos direitos humanos no aeroporto de Cheremetievo, em Moscovo.

Num comunicado publicado no site da organização WikiLeaks, o analista informático faz saber que aceita formalmente "todas as ofertas ou apoio" com vista à obtenção de asilo – as que já foram feitas e as que forem feitas no futuro.

"No entanto, como temos visto, alguns governos da Europa Ocidental e da América do Norte têm demonstrado uma determinação em agirem fora da lei, e esse comportamento persiste. Esta ameaça ilegal impede-me de viajar para a América Latina e de beneficiar das ofertas de asilo", escreve Edward Snowden.

No mesmo texto, o analista informático, que tem revelado os segredos do programa de espionagem dos Estados Unidos, pede a ajuda das organizações de defesa dos direitos humanos para desbloquear a situação em que se encontra.

"A determinação com que Estados poderosos agem fora da lei representa uma ameaça para todos nós e não pode ser permitida. Assim, peço a vossa assistência para que me seja garantida uma passagem em segurança para a América Latina, bem como em relação a um pedido de asilo à Rússia, até que esses Estados obedeçam à lei e a minha viagem seja autorizada", lê-se no documento publicado pela WikiLeaks. 

"Vou enviar o meu pedido [de asilo] à Rússia hoje [sexta-feira] e espero receber uma resposta positiva", revela.

O analista informático admite que o preço da decisão de divulgar documentos secretos da Agência de Segurança Nacional (NSA) norte-americana tem sido elevado, mas diz não estar arrependido, acusando ainda a Administração Obama de o perseguir e de pressionar outros países a fazer o mesmo.

"Desde então, o Governo e os serviços de inteligência dos Estados Unidos da América têm tentado fazer de mim um exemplo, um aviso para todos os que possam vir a falar. Tornei-me uma pessoa sem Estado e sou perseguido pelo meu acto de expressão política. O Governo dos Estados Unidos colocou o meu nome na lista de pessoas que estão proibidas de entrar num avião. Exigiu a Hong Kong que me deportasse, à margem das leis do território e em violação do princípio de não extradição. Ameaçou aplicar sanções a países que pudessem defender os meus direitos humanos. Até deu o passo sem precedentes de ordenar os seus aliados militares a fazerem aterrar o avião do Presidente de um país da América Latina, em busca de um refugiado político. Estas escaladas perigosas representam uma ameaça não apenas para a dignidade da América Latina, mas também para o direito essencial partilhado por todas as pessoas, por todos os países, de viver livre de perseguições e de pedir e beneficiar de asilo", escreve Edward Snowden.

Putin mantém exigência para conceder asilo
O antigo analista informático contratado pela NSA convidou um grupo de representantes de organizações como a Human Rights Watch e a Amnistia Internacional para anunciar os seus próximos passos e procurar ajuda para resolver a situação de impasse em que se encontra.

Tania Lokshina, da secção russa da Human Rights Watch, esteve na reunião e avançou algumas informações através da jornalista do The New York Times Ellen Barry, responsável pela delegação do jornal norte-americano em Moscovo.

"Ele vai entregar um pedido de asilo à Rússia hoje [sexta-feira] e planeia viajar para a América Latina, eventualmente", lê-se numa mensagem publicada por Ellen Barry no Twitter.

Segundo Tania Lokshina, Edward Snowden afirma que o asilo é a sua única hipótese de permanecer em segurança na Rússia e reforça a ideia de que o objectivo final é viajar para a América Latina.

O analista informático diz ter em cima da mesa ofertas da Venezuela, da Bolívia, da Nicarágua, do Equador e da Rússia – apesar de ter pedido asilo à Rússia nos dias que se seguiram à sua chegada a Moscovo, a 23 de Junho, Edward Snowden retirou o pedido formal depois de o Presidente Vladimir Putin ter afirmado que o norte-americano só poderia ficar no país se não continuasse a divulgar informações sobre os programas de espionagem dos Estados Unidos.

As autoridades russas reafirmaram nesta sexta-feira que essa condição se mantém, mas Snowden diz que está determinado a continuar o seu trabalho de divulgação dos segredos da espionagem norte-americana – o analista informático vai pedir asilo com o argumento de que o seu trabalho não está a prejudicar os Estados Unidos.

"Nada do que eu faço e nenhum dos meus planos têm como objectivo causar danos aos Estados Unidos. Eu quero que os Estados Unidos tenham sucesso", afirmou durante a reunião.

Snowden pede a ajuda das organizações humanitárias para que intercedam junto de Vladimir Putin – para que lhe seja concedido asilo mesmo sem parar de divulgar documentos secretos –, e também junto dos Estados Unidos e da Europa, para que não impeçam a sua saída de Moscovo.

"Apenas admito aceitar a oferta da Rússia porque estou impossibilitado de viajar", terá dito Snowden, ainda de acordo com as informações da representante da Human Rights Watch. O porta-voz do Governo russo, Dmitri Peskov, disse à agência de notícias Interfax que as condições impostas pelo Presidente Putin se mantêm em vigor e avançou que as autoridades ainda não receberam qualquer pedido formal de asilo.

Na reunião com representantes de organizações de defesa dos direitos humanos, Snowden disse ainda que se sente seguro na Rússia.

Horas depois desta reunião, o Governo americano emitiu um comunicado em que pede à Rússia para não se tornar "uma tribuna de propaganda" para Snowden.
 
 
 
 

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