Sírios não desistem de Palmira, iraquianos recuperam áreas próximas de Ramadi
Secretário da Defesa dos EUA acusou militares iraquianos de falta de vontade de combater, por terem retirado de Ramadi.
A força aérea síria bombardeou esta segunda-feira edifícios de Palmira, cidade conquistada na semana passada pelo autoproclamado Estado Islâmico (EI), que terá morto nos últimos dias na região pelo menos 217 pessoas, incluindo civis. A imprensa síria aponta números mais elevados.
“A aviação do regime fez 15 raides sobre Palmira e arredores”, disse o director do Observatório Sírio dos Direitos do Homem, Rami Abdel Rahman, citado pela AFP. “Há pelo menos quatro mortos civis e dezenas de feridos e é certo que há também mortos entre os jihadistas.” Os ataques foram confirmados por fonte militar síria, que adiantou ter feito 160 raides na cidade e no leste da província de Homs
A organização não-governamental informou ter provas da execução pelo Estado Islâmico de pelo menos 67 civis, entre os quais 14 crianças e 12 mulheres, e de 150 membros das forças sírias em diversos lugares da província de Homs, mais de 200 quilómetros a nordeste de Damasco. “A maior parte das execuções ocorreram em Palmira. Algumas vítimas foram mortas a tiro, outras foram decapitadas ou mortas com facas”, disse Rahman.
O diário al-Watan, próximo do regime de Bashar al-Assad , denunciou também, segundo a AFP, o “massacre” de 450 pessoas em Palmira, cidade património da humanidade: o jornal escreveu que no sábado foram mortos mais de 250 civis, maioritariamente mulheres, crianças e idosos; e no domingo 200. Entre as vítimas estarão médicos, enfermeiros e funcionários do hospital. No domingo, a televisão oficial tinha já noticiado a morte de 400 civis.
Cerca de 300 soldados terão sido mortos em combate antes de a cidade ter sido conquistada pelos islamistas, na semana passada. O observatório anunciou que 600 pessoas, entre os quais militares, apoiantes do Governo e civis acusados de ligação ao regime foram capturados pelo EI, na província de Homs.
A Turquia anunciou entretanto ter estabelecido um acordo de princípio com os EUA para dar apoio aéreo a forças da oposição síria moderada. Washington não confirmou.
A batalha de Ramadi
Do vizinho Iraque as notícias são de que o Estado Islâmico está a reforçar posições em Ramadi, cidade que conquistou há uma semana. A informação foi prestada à Reuters por residentes. O primeiro-ministro, Haidar al-Abadi, disse à BBC que a cidade pode ser recuperada “em dias” mas que para isso é necessário mais apoio da coligação internacional liderada pelos Estados Unidos. Informações recolhidas pela Reuters indicam que as forças iraquianas, apoiadas por milícias xiitas e combatentes sunitas terão recuperado desde sábado terreno a Leste e Sul da cidade.
A queda de Ramadi levou o secretário da Defesa dos EUA, Ashton Carter, a acusar os militares iraquianos de falta de vontade de combater, por terem retirado perante um “número bem menor” de inimigos. “Podemos dar-lhes treino, podemos dar-lhes equipamento – obviamente não podemos dar-lhes vontade de combater”, disse no domingo, na CNN.
Na entrevista à BBC, Abadi manifestou-se surpreendido com o comentário. “[Carter] apoia muito o Iraque e estou certo de que lhe deram informações incorrectas”.
O chefe do executivo iraquiano disse que as forças governamentais foram abaladas pelas tácticas do EI. “Eles têm vontade de lutar, mas quando são confrontados com um ataque a partir do nada ... com camiões blindados carregados de explosivos, o efeito é como o de uma pequena bomba nuclear – tem um efeito muito muito mau nas nossas forças”.
Para o analisa iraquiano Ahmed Ali, citado pela AFP, as críticas do secretário de Estado norte-americano “são surpreendentes e susceptíveis de pesar no moral das forças iraquianas” já abalado pelos recentes desaires. É por isso que, já esta segunda-feira, o vice-Presidente norte-americano, Joe Biden, procurou emendar a mão ao reconhecer o “enorme sacrifício e bravura” das forças iraquianas, em Ramadi e noutros lugares.