Sete bailarinos cubanos desertaram para os Estados Unidos

Membros do Ballet Nacional de Cuba buscam novas oportunidades artísticas e melhores condições económicas.

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Entre os desertores estão duas bailarinas Denis Balibouse/Reuters

O Ballet Nacional de Cuba confirmou a deserção de sete bailarinos da companhia, que não regressaram ao país depois de uma digressão artística no México e terão já solicitado asilo político aos Estados Unidos.

“Sim, é certo. Os sete ficaram no México. Desertaram. É uma realidade”, disse a porta-voz do Ballet Nacional de Cuba à Reuters, recusando fazer mais comentários. 

O Ballet Nacional de Cuba esteve no México entre 17 e 25 de Março, para espectáculos em Cancún, Playa del Carmen e Chetumal. Daí, os bailarinos terão seguido até à fronteira com o Texas e entrado nos Estados Unidos.

As deserções de artistas e atletas cubanos em viagens internacionais acontecem frequentemente. A companhia cubana de bailado “perdeu” cinco membros em Março de 2011, após uma actuação no Canadá. Em 2005, o seu bailarino principal, Rolando Sarabia, desertou para os Estados Unidos, juntando-se ao Miami City Ballet.

Segundo explicou Annie Ruiz Días, uma das integrantes do grupo de desertores – cinco homens e duas mulheres, com idades entre os 20 e 24 anos –, os vários exemplos de sucesso profissional dos seus pares no estrangeiro foram determinantes para a sua decisão de abandonar o país. A bailarina disse que o grupo foi motivado pelo desejo de progredir na carreira e encontrar melhores oportunidades artísticas, e também outras condições salariais.

“Já tínhamos viajado várias vezes com a companhia e sentimos que chegara o momento. Foi a decisão mais difícil que já tomei na vida, mas pensamos no futuro e não no passado. Sabíamos que só podíamos escapar agora, que somos jovens e temos força para começar de novo”, justificou a sua colega Ariadnni Martín, em declarações ao site cafefuerte.com, um portal de notícias para a comunidade cubana exilada em Miami, nos Estados Unidos.

Seis dos bailarinos já se encontram nessa cidade norte-americana e um permanece ainda no México. “Quisemos escapar juntos para podermos ajudar-nos uns aos outros. Deixamos para trás as nossas famílias e não sabemos quando voltaremos a vê-las”, lamentou Randy Crespo, outro dos desertores. “Sei que posso dançar bailado clássico ou contemporâneo nos Estados Unidos”, garantiu Annie Ruiz Días. Mas “estamos dispostos a fazer qualquer tipo de trabalho para poder concretizar o nosso sonho”, acrescentou.

O Ballet Nacional de Cuba, fundado em 1948 pela lendária Alicia Alonso, que aos 91 anos e quase totalmente cega ainda dirige a companhia, é um dos principais cartões de visita do regime comunista em termos internacionais. Considerada a melhor companhia da América Latina, a qualidade artística dos seus membros é reconhecida em todo o mundo.

A directora da Escola Nacional de Bailado de Havana, Ramona de Saá, lamentou a deserção dos seus antigos estudantes, especificamente de uma bailarina que não quis nomear mas que considerava “uma filha”.

Elogiando o sistema de ensino e a companhia profissional de bailado cubana, Ramona de Saá disse ainda que os jovens bailarinos do país são uns “privilegiados” em comparação com os seus colegas estrangeiros, porque o Governo cubano apoia activamente a dança. A professora lembrou que, “no resto do mundo, a situação dos bailarinos é muito difícil”, temendo que os sete desertores não consigam encontrar emprego.
 

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