O Governo de Belgrado rejeitou segunda-feira o acordo mediado pela União Europeia sobre o estatuto do Kosovo, que previa o reconhecimento da independência proclamada desde 2008 pela província que ainda é reclamada pela Sérvia, em troca da abertura das negociações para adesão ao clube de Bruxelas.

O prazo para a resposta sérvia à proposta europeia terminava hoje. “O Governo da Sérvia não pode aceitar os princípios apresentados verbalmente à sua delegação negocial em Bruxelas, uma vez que não garantem a total segurança, sobrevivência e protecção dos direitos humanos do povo sérvio no Kosovo”, indicou o primeiro-ministro, Iva Dadic, no final de uma reunião de emergência do executivo.

Mas apesar da negativa, o Governo sérvio manifestou a sua intenção de “regressar urgentemente ao diálogo com Pristina, sob mediação europeia”. O acordo com o Kosovo foi a condição imposta por Bruxelas para a consideração do pedido de adesão da Sérvia à União Europeia – o calendário para o início das conversações oficiais estava dependente da assinatura de um compromisso, pelo que o processo voltou a cair no impasse.

A alta representante da União Europeia para a política externa, Catherine Ashton, que tem mediado as conversas, lamentou a posição de Belgrado e pediu ao Governo de Dadic para “fazer um último esforço” que permita salvaguardar um compromisso entre as partes. “Acredito que pusemos em cima da mesa todos os elementos necessários para um acordo de reconciliação que beneficiaria as duas partes”, declarou Ashton.

O Kosovo declarou unilateralmente a independência da Sérvia em 2008, num acto que foi oficialmente reconhecido por mais de 90 países, incluindo 22 dos 27 Estados que compõem a União Europeia. O primeiro-ministro Hashim Thaci não escondeu o seu “desapontamento” pela resposta da Sérvia à solução oferecida por Bruxelas, mas insistiu que não vai encerrar o diálogo nem desistir das negociações. “É a única forma de resolver o problema e normalizar as relações”, declarou, em Pristina.

Os negociadores sérvios não aceitam entregar o controlo efectivo do Norte do Kosovo às autoridades de Pristina, conforme exigia Bruxelas, por rejeitarem em absoluto os pontos relativos à representatividade da minoria sérvia nas forças policiais e nos tribunais do Kosovo, acertados pelos mediadores após oito rondas de conversações. “Na proposta que nos foi lida, seis pontos eram aceitáveis e dois não”, explicou o vice primeiro-ministro sérvio, Aleksander Vucic, alegando que as propostas não tinham em consideração o enclave do Norte do Kosovo, onde os sérvios são maioritários.