Sequestro e morte de procurador turco reavivam fantasmas da Taksim

Procurador turco morreu depois de ter sido sequestrado por um grupo de extrema-esquerda que reivindicava justiça para Berkin Elvan, símbolo dos protestos antigovernamentais da Praça Taksim.

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Governo participou na cerimónia fúnebre no pátio do tribunal onde esteve sequestrado Mehmet Kiraz Ozan Kose/AFP

O Governo turco acusou nesta quarta-feira as “forças negras” que conspiram contra a Turquia da morte do procurador que esteve sequestrado durante seis horas num tribunal em Istambul. Mehmet Selim Kiraz acabou por morrer já no hospital, para onde foi transportado de emergência no seguimento da operação policial que terminou com o sequestro.

Foi o próprio Presidente da Turquia, Recep Erdogan, quem avançou os detalhes da morte do procurador: foi atingido por cinco tiros, três deles na cabeça. Não ficou claro, porém, se todos estes disparos foram da autoria do grupo de extrema-esquerda que reivindicou o sequestro, ou se o procurador turco foi também alvejado pela polícia, quando esta tomou de assalto o seu gabinete. Em todo o caso, Erdogan deu os parabéns às autoridades turcas, segundo avança a edição inglesa do diário Hürriyet. No assalto morreram também os dois sequestradores associados ao grupo de extrema-esquerda Frente Partidária de Libertação do Povo Revolucionário (DHKP/C, na sigla em turco).

Mehmet Kiraz investigava a morte de Berkin Elvan, o jovem turco de 15 anos que morreu em 2014 ao fim de nove meses de coma. Elvan foi atingido na cabeça por uma granada de gás lacrimogéneo lançada pela polícia durante os protestos na Praça Taksim em 2013. Durante o sequestro de Kiraz, o DHKP/C exigia que os polícias que considerava responsáveis pela morte de Elvan confessassem publicamente o crime e fossem julgados por um tribunal popular. Já em Janeiro, o mesmo DHKP/C – considerado um grupo terrorista pela União Europeia, Estados Unidos e Turquia – assumiu a autoria de um ataque suicida junto a uma estação da polícia em Istambul. Um acto em vingança pela morte de Elvan, disse então o grupo.  

As implicações políticas do sequestro de Kiraz fizeram-se sentir logo na noite de terça-feira. Segundo a Reuters, que cita órgãos de informação turcos, a polícia deteve 36 estudantes na Universidade de Istambul, que se manifestavam em favor de um dos sequestradores de Kiraz. Ao início desta quarta-feira, cerca de 20 pessoas com ligações ao grupo de extrema-esquerda foram detidas no Sul do país, em Antalya. Na mesma manhã, mas em Istambul, o Governo turco aparecia em peso na cerimónia de velório a Kiraz, primeiro no pátio do mesmo tribunal em que este foi sequestrado e que terá a partir de agora o seu nome, depois na mesquita Eyup Sultan, onde acarinharam o filho do procurador.

“Não vemos isto como um ataque ao nosso procurador morto, mas contra todo o sistema de Justiça. É uma arma apontada à nossa nação”, disse o ministro da Justiça, Kenan Ipek. “O nosso Estado é poderoso o suficiente para perseguir quem está por detrás destes miseráveis… O facto de estes assassinos estarem mortos não deve amansar as nefastas forças negras”, concluiu, citado pela Reuters.

Sentiu-se a proximidade das eleições legislativas na Turquia. Nas cerimónias fúnebres de Mehmet Kiraz estiveram presentes o primeiro-ministro turco, Ahmet Davutoglu, acompanhado do ministro da Justiça e do presidente da Assembleia Nacional Turca, todos do Partido da Justiça e Desenvolvimento (PKP) do Presidente Erdogan, que no passado chamou “terrorista” a Berkin Elvan, o jovem-símbolo dos protestos de Taksim cuja morte Kiraz investigava. Na noite de terça-feira, o primeiro-ministro turco alertara já para uma possível escalada de violência até às eleições legislativas de Junho e apelou para que todos os partidos “formassem uma frente unida contra o terrorismo”.  

Polícia mata mulher com granadas

A polícia anunciou entretanto ter morto uma mulher suspeita de ter na sua posse uma bomba com que pretendia atacar a sede da polícia em Istambul.

Segundo explicou aos jornalistas o governador da cidade, a mulher e um cúmplice abriram fogo contra o edifício e a polícia respondeu. O cúmplice ficou ferido.

"Uma mulher terrorista foi morta na troca de tiros, ela tinha uma bomba e uma arma de fogo", disse o governador, Vasip Sahin.

 
 

   


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