Governo de Kiev acusa Rússia de ter derrubado um avião ucraniano

Kiev diz que o aparelho foi atingido por um "míssil mais poderoso". No terreno, as forças ucranianas continuam a avançar e os combates prosseguem.

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Antecipando os combates, a população de Donetsk está a abandonar as suas casas Reuters

Um avião militar ucraniano, que segundo a presidência participava na "guerra contra o terrorismo" no Leste do país, foi abatido esta segunda-feira. O aparelho, um An-26, seguia a uma altitude de 6500 metros quando foi atingido. O avião, disse o Governo de Kiev, foi atingido por "um míssil mais poderoso", "provavelmente disparado" da Rússia.

O Governo de Moscovo não comentou, até ao momento, o derrube do aparelho que caiu quando sobrevoava a zona de fronteira com a Rússia - caiu em território ucraniano. O Governo de Kiev também não indicou qual será a sua reacção, caso se confirme que o avião de carga foi derrubado pela Rússia - um analista da BBC notava que, a ser verdade, este acidente marca uma nova fase na intervenção russa no conflito, mas questionava que tipo de resposta pode Kiev dar. "O que é que a Ucrânia pode fazer, declarar guerra à Rússia", escrevia o analista, dizendo que a confirmar-se esta agressão terão que ser os aliados ocidentais de Kiev a responde, de alguma forma, ao Kremlin.

Não se sabe se houve vítimas, ou quantas, caso as tenha havido - não foram recuperados corpos. Numa mensagem no Facebook, membros da operação anti-terrorismo ucranianas disseram que sabiam o que aconteceu a "dois membros da tripulação" e que estavam à procura de informações sobre os outros. 

As tropas separatistas - que pouco antes tinham anunciado estar a disparar contra aviões na região de Lugansk - disseram aos media russos ter capturado a tripulação do avião abatido e que os tinham levado para Krasnodon, onde estariam a ser interrogados. 

De manhã surgiu a notícia de que o Kremlin estaria a “estudar a possibilidade” de realizar “ataques cirúrgicos” em território ucraniano depois da queda, no domingo, de um obus numa vila fronteiriça do seu território — fez um morto e um ferido. “A nossa paciência tem limites, disse uma fonte do Kremlin ao jornal Kommersant. 

A Ucrânia desmentiu ter disparado o tiro de obus. “Não há dúvida: as forças ucranianas não estavam a atirar contra o território da Federação Russa. Não fomos nós que disparamos”, assegurou o porta-voz do Conselho de Segurança Nacional e de Defesa de Kiev, Andri Lissenko, citado pela AFP. “Essa informação é uma mentira, não corresponde à realidade. Há muitos casos em que os terroristas disparam como provocação, mesmo contra território russo, para poderem acusar os militares ucranianos”, defendeu.

No sábado registara-se um acidente semelhante, com os russos a acusarem as tropas ucranianas de terem disparado contra um carro de fronteira russo, enquanto Kiev afirma que apenas impediu uma incursão no seu território.

Os separatistas anunciaram estar a concentrar os seus ataques junto ao aeroporto de Lugansk, que estava nas mãos das forças ucranianas desde a noite de domingo. 

“O Estado-maior da operação anti-terrorismo informou o Presidente Petro Poroshenko de que os militares chegaram, depois de combates, ao aeroporto de Lugansk”, anunciou a presidência ucraniana na sua página do Facebook no domingo à noite. 

Um porta-voz militar, Oleksiï Dmytrachkivskiï, disse a seguir que a aviação realizou bombardeamentos nas proximidades do aeroporto e em duas localidades próximas desta cidade, uma das maiores do Leste e nas mãos dos separatistas. Nessas localidades, Izvariné et Lisitchansk, os separatistas, e de acordo com o Governo de Kiev, concentraram muito material bélico.

O grande objectivo do exército ucraniano continua a ser a cidade de Donetsk, onde os separatistas reagruparam depois de terem perdido Slaviansk, que era a sua praça forte desde o início da insurreição. Antecipando um avanço das forças ucranianas, a população de Donetsk e dos seus arredores começou a abandonar a região.

No domingo à noite, o “ministro da defesa” separatista, Igor Strelkov — que Kiev acusa de ser um agente de Moscovo — disse à agência russa RIA-Novosti que “intensos combates” estavam em curso na periferia de Lugansk, para onde o exército ucraniano tinha deslocado “dezenas” de carros de combate. 

Na noite de domingo para segunda-feira, o estado-maior das forças ucranianas anunciou que foram disparados tiros de roquetes Grad sobre as posições das suas tropas, mas que não havia vítimas a registar.

Os combates continuavam esta segunda-feira, segundo os serviços de imprensa da autoproclamada “República Popular de Lugansk”, que comporta as cidades de Mettalist (norte), Olexandrivka (oeste), Gueorguiivka e Raskochna (sudoeste). A mesma fonte adiantou que as forças separatistas atacaram colunas do exército ucraniano junto ao aeroporto de Lugansk e em Gueorguiivka. O presidente da câmara de Lugansk disse que a troca de tiros entre as duas partes do conflito fez três mortos e 14 feridos entre a população civil.

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