Seis países da América Latina exigem "desculpas públicas" de Portugal no caso do avião de Morales

Exigência de pedido de desculpas estende-se à Espanha, França e Itália por recusarem a passagem do avião do Presidente da Bolívia por suspeitas de trazer a bordo Edward Snowden, o informático procurado pelos Estados Unidos.

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Alguns presidentes da América do Sul denunciaram a "violação das leis internacionais" JORGE BERNAL/AFP

Na reunião de urgência da União da América do Sul (Unasur) na cidade boliviana de Cochabamaba, que se realizou nesta quinta-feira, seis países – Argentina, Equador, Suriname, Uruguai e Venezuela para além da Bolívia – exigiram “respostas e desculpas públicas” a Portugal, França, Itália e Espanha que impediram o avião do Presidente da Bolívia, Evo Morales, de sobrevoar o espaço aéreo europeu e aterrar em Portugal.

Não foi apenas um apoio declarado que o Presidente da Bolívia recebeu dos líderes de países da América Latina no encontro em Cochabamba. Os líderes reunidos consideraram ter havido uma violação do direito internacional. 

O incidente diplomático foi criado pelas suspeitas de que o avião de Morales, no regresso de um encontro em Moscovo, trouxesse a bordo o ex-agente informático que denunciou as operações de espionagem da CIA Edward Snowden, hoje procurado pelos Estados Unidos por ter revelado um programa de vigilância da National Security Agency (NSA).

O avião de Morales foi impedido de aterrar em Portugal e de sobrevoar o espaço aéreo dos três outros países. Portugal, através do Ministério dos Negócios Estrangeiros, disse "lamentar o incómodo", mas afastou responsabilidades, num comunicado divulgado na quarta-feira.
 

O PÚBLICO tem tentado contactar o porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Miguel Guedes, desde a manhã de quarta-feira, para esclarecer que tipo de "considerações técnicas" levaram ao cancelamento da autorização de aterragem em Lisboa e obter um comentário sobre a acusação do Presidente da Bolívia de que Portugal suspendeu o sobrevoo e proibiu a aterragem devido a "suspeitas infundadas" de que Edward Snowden seguia a bordo, mas até esta sexta-feira de manhã não obteve qualquer resposta.

Nesse mesmo dia, a Bolívia exigiu uma posição oficial das Nações Unidas, alegando quebra das regras do direito internacional.  La Paz desmentiu que Snowden estivesse a bordo do avião presidencial e o Presidente Morales garante que não se encontrou com o agente procurado pelos Estados Unidos durante a permanência em Moscovo. Snowden fez um pedido de asilo político a 20 países, mas continuava, nesta quinta-feira, a aguardar uma resposta no aeroporto da capital russa.

No encontro em Cochabamba, com os líderes dos países amigos da América Latina, Morales não disse que não excluía a hipótese de fechar a embaixada dos Estados Unidos em La Paz. O Presidente da Bolívia acusa Washington de responsabilidade neste caso, por pressionar os países europeus. A estes recomendou que "se libertassem” dos EUA.

“Os Estados Unidos estão a usar o agente [Snowden] e o Presidente [da Bolívia] para intimidar toda a região”, afirmou Morales. “Unidos poderemos derrotar o imperialismo norte-americano”, disse ainda o Presidente boliviano. “Se necessário, fecharemos a embaixada dos Estados Unidos. Não precisamos da embaixada dos Estados Unidos”,. acrescentou.

Washington já tinha, nesta quinta-feira, passado a responsabilidade da polémica para os quatro países envolvidos. "As decisões foram tomadas por países individuais e as perguntas devem ser feitas a esses países", disse a porta-voz do Departamento de Estado.

A reunião da Unasur desta quinta-feira tinha como objectivo analisar as respostas a dar àquilo que a organização considerou ser a violação das leis internacionais e uma provocação. Os presidentes da Colômbia, Chile e Peru, países que mantêm boas relações com os EUA, não estiveram presentes. Do Brasil a Presidente Dilma Rousseff fez-se representar pelo alto conselheiro internacional Marco Aurélio Garcia.

O Presidente da Colômbia, Juan Manuel Santos, fez saber, segundo a AP, que apoiava Morales, mas pediu aos outros líderes para manterem a calma e evitarem uma escalada da tensão entre a América Latina e a União Europeia.
 
 
 
 

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