Sarkozy e Juppé em vantagem nas primárias da direita francesa

Perante a impopularidade dos socialistas, o vencedor da disputa no partido Os Republicanos tem grandes hipóteses de ser Presidente da República.

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Sarkozy e Juppé quando faziam parte do mesmo governo AFP

As eleições primárias da direita francesa, etapa chave das presidenciais de 2017, começaram oficialmente esta quarta-feira com dois favoritos: o antigo Presidente Nicolas Sarkozy e o antigo primeiro-ministro Alain Juppé, dois homens cujas histórias estão ligadas há 40 anos.

Depois de terem surgido 11 potenciais candidatos, apenas sete validaram os processos para as eleições na oposição o governo é socialista, liderado pelo Presidente François Hollande , que decorrem em duas voltas, a 20 e a 27 de Novembro.

O cerebral presidente da câmara de Bordéus, Alain Juppé, de 71 anos, parte na frente das sondagens e conta com os votos do centro para ser nomeado. Logo atrás de si surge o enérgico Nicolas Sarkozy, de 61 anos, que deu início a uma campanha marcadamente de direita.

Os outros candidatos não devem conseguir imiscuir-se no duelo anunciado entre estes dois homens. Mas entre eles está o antigo primeiro-ministro de Sarkozy, o estóico François Fillon, e uma mulher, Nathalie Kosciusko-Morizet.

Está muito em jogo nestas primárias da direita: perante a impopularidade da esquerda socialista, no poder há cinco anos e minada por guerras intestinas, o vencedor das primárias do partido Os Republicanos tem grandes possibilidades, segundo as sondagens, de passar à segunda volta das presidenciais, que deverá disputar com a candidata da extrema-direita Marine Le Pen.

A Frente Nacional, o partido de Le Pen, progride a cada eleição, mas ainda é rejeitado por muitos franceses. Por isso, o vencedor da primeira volta da direita poderá, se estas tendências se confirmaram, tornar-se Presidente.

"Dois homens ambiciosos"

Nicolas Sarkozy e Alain Juppé vão travar "uma guerra intensa", dizem Anita Hausser e Olivier Biscaye, autores de Ennemis de trente ans (Inimigos de 30 anos), uma obra consagrada a estes "dois homens ambiciosos".

Desde que se estrearam na vida política, em meados dos anos de 1970, os dois ocuparam áreas opostas. Jacques Chirac identificou-os como "um binómio complementar": "Para Sarkozy, o terreno das reuniões militantes. Para Juppé, o escritório e as reuniões estratégicas", lembram os autores.

Depois de várias batalhas comuns, os seus caminhos separaram-se com o aproximar das eleições de 1995. Alain Juppé manteve-se fiel a Jacques Chirac, enquanto Nicolas Sarkozy se posicionou ao lado de outro candidato da direita, Edouard Balladur, que foi derrotado.

Depois deste primeiro confronto por interposto mentor , os dois atravessaram momentos difíceis. Devido aos "anos Chirac", Sarkozy teve que esperar pelos anos 2000 para regressar ao primeiro plano.

Alain Juppé, nomeado primeiro-ministro, bateu recordes de impopularidade e enfrentou as gigantescas manifestações contra as reformas sociais no Inverno de 1995. Em 2004, o seu destino parecia definitivamente selado, quando lhe foi dada uma pena de um ano sem poder ser eleito para cargos públicos devido a um caso de empregos fictícios.

Paradoxalmente, foi a eleição de Nicolas Sarkozy para a presidência em 2007 que o voltou a projectar, ao ser-lhe dado o Ministério da Defesa e, depois, dos Negócios Estrangeiros.

Actualmente, o momento não é de colaborações. Longe disso.

A inimizade prende-se também com a diferença de estilo. "Juppé candidato? Isso não me incomoda, até me rejuvenesce", diz Nicolas Sarkozy no semanário humoristico Le Canard Enchaîné. Alain Juppé acusa o concorrente de não ter sangue-frio, fala mesmo em "frenezim" e de "histeria irracional".

Onde os dois homens divergem de facto é numa questão de fundo: num país traumatizado pelos atentados jihadistas, Nicolas Sarkozy ancorou a sua campanha na segurança e na identidade, na "peste negra" que é o islamismo e nos antepassados "gauleses" dos franceses.

Alain Juppé bate-se por "identidade feliz", por não se "ceder ao medo" e apela a que não se estigmatizem os muçulmanos.

Segundo as sondagens, o ex-chefe de Estado tem o apoio do seu partido, Os Republicanos, enquanto Juppé seduz o eleitorado de centro-direita que está fora do partido.

O resultado das primárias, abertas a "todos os que se reconhecem nos valores da direita e do centro", dependerá portanto da participação dos que não são militantes.

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