São Tomé – arroz e internet

Em campanha eleitoral em São Tomé e Príncipe o jornalista da SIC Pedro Cruz perguntou a Patrice Trovoada: “Que medida tomaria se apenas pudesse escolher uma?”. O entrevistado logo respondeu: “Internet grátis e em todo o lado”.

Nos comícios prometeria arroz acessível (base da alimentação e objecto de polémica devido a certos circuitos de comercialização) e internet grátis. No muro em frente do Hotel Pestana de São Tomé, todos os dias jovens estão sentados com os seus portáteis nos joelhos. Estão a apanhar a internet do hotel. Numa população em que mais de 60% dos jovens têm menos de 25 anos, a internet é um artigo de primeira necessidade. Necessidade de abertura ao mundo... sem medo de tudo que isso possa implicar.

São Tomé é um “porta-aviões” no Golfo da Guiné, a região com a maior previsão de índice de crescimento da África Ocidental e uma das maiores do mundo (6.7 nos próximos 10 anos). A uma hora e meia de avião vivem 350 milhões de pessoas (EUA: 320 milhões) numa região riquíssima mas instável. São Tomé é um oásis.

Patrice Trovoada explica: “Se vai pedir dinheiro ao banco o que imediatamente lhe pedem é um Plano do Negócio”. O “plano de negócio” de Patrice Trovoada para São Tomé é surpreendentemente simples: fazer do arquipélago uma “retaguarda” de serviços – educativos, de saúde, financeiros – evitando o absurdo do recurso às longínquas Europa e Américas. “Fazer de São Tomé o Dubai da África Ocidental” é apenas um slogan que quer dizer isto. Como fazer?

Nos últimos14 anos São Tomé conheceu 14 primeiros-ministros. O Orçamento de Estado de ronda os 150 milhões de dólares dos quais talvez um terço é executado. O restante, baseado em fundos de ajuda internacional, perde-se por incapacidade de concretização. A União Europeia, o Banco Mundial e outros organismos internacionais estão cheios, mas cheios de dinheiro à espera de projectos credíveis.

Pela primeira vez na história de São Tomé alcançou-se uma maioria absoluta com a ADI liderada por Patrice Trovoada. Uns dias antes das eleições (12 de Outubro) chegaram a São Tomé dois milhões de dólares (há testemunhas, até fotografias) para o “banho”, compra de votos, um costume que sempre ali se praticou de forma não oficial mas aberta. De onde veio esse dinheiro? Mistério!

A ADI e Patrice Trovoada recusaram o “banho”. Apenas ofereceram transporte para os comícios (além das habituais camisolas, bonés, etc.) Loucura – disserem todos. Numa população paupérrima, o “banho” é uma bênção financeira. Recusá-lo é suicídio.

Pela primeira vez na história de São Tomé o “banho” não resultou e quem deu os 2 milhões de dólares fez um péssimo negócio. Aparentemente, os chefes de família receberam o “banho” mas votaram de acordo com a sua consciência. A instituição “banho” acabou, portanto. E também pela primeira vez na história de S. Tomé o nível de votação alcançou quase os 75%. Extraordinário!

Algo se está a passar de verdadeiramente novo naquele pequeno país que fala português. Patrice Trovoada tem uma responsabilidade enorme para com a História. Todos desejamos que esteja à altura. São Tomé e Príncipe e a História não lhe permitirão que não esteja!

Jornalista, director da agência de comunicação Buenopress e amigo de Patrice Trovoada

 

 

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